O cuidado aos enfermos nos tempos de São Vicente e nos dias atuais
Dia 11 de fevereiro comemoramos o Dia do Enfermo e, para marcar a data, convidamos a consócia e psicóloga Ada Ferreira para discorrer sobre “O cuidado aos enfermos nos tempos de São Vicente e nos dias atuais”, que foi tema de seu trabalho de conclusão do curso Máster em Vicentinismo. O trabalho é primoroso, então, selecionamos com ela alguns trechos, que abordam o tema com muita clareza. Ele retrata o cuidado com os enfermos e o serviço prestado a eles nos hospitais, tanto nos tempos de São Vicente como ainda hoje, pelos vicentinos, que continuam dedicados ao cuidado com quem se encontra enfermo.
O acontecimento de Folleville em janeiro de 1617 é um marco determinante para compreender o lugar e a representação que os enfermos ocupam na vida de São Vicente e de muitos que seguem o seu legado. Cuidar dos pobres, dos abandonados e dos enfermos é uma das formas de responder efetivamente à nossa missão e caridade.
São Vicente foi tocado pela ação do Espírito Santo no cuidado com os enfermos. A visita realizada ao homem acamado, acometido de uma enfermidade, uma visita cuja finalidade era realizar a extrema unção, transformou integralmente a vida de São Vicente. Ele jamais poderia imaginar o quanto sua vida mudaria a partir daquele momento. A doença chega e se instala nas pessoas e, neste instalar, mais do que receber um diagnóstico, o enfermo espera encontrar apoio, afeto e compreensão.
Neste gesto de visitar e abençoar o homem enfermo, São Vicente foi impactado pela dor e pelo sofrimento humano, foi impelido a direcionar palavras que chegassem ao coração das pessoas, palavras que deveriam tocar efetiva e afetivamente o sofrimento existencial.
E como nem toda dor e sofrimento se manifestam de forma visível, espera-se que haja um olhar cuidadoso para perceber quando o sofrimento está presente e quando é sentido pela própria pessoa e pelos que lhe estão próximos.
São Vicente foi um homem sábio e à frente de seu tempo. Após permitir ser tocado pela ação do Espírito Santo, uma mudança efetiva transformou a sua forma de olhar e viver sua missão e caridade. Ele foi aos poucos analisando a realidade em que estava inserido: “a) A população vive submetida a uma desnutrição crônica, devido à escassez e à baixa qualidade dos alimentos. b) A incapacidade da medicina de enfrentar as enfermidades assim como a carência de hospitais ou postos de saúde. c) As guerras que acontecem quase ininterruptamente no território da França. d) A peste que, quando aparece, reduz a população, às vezes, para a metade, sem dispor de meios para enfrentá-la. e) A fome, consequência e, ao mesmo tempo, causa de enfermidades.
São Vicente insistia na atenção social para que os enfermos recebessem o mínimo necessário para dar continuidade em sua vida, não só eles como suas famílias. Ele, em sua época, já falava do cuidado com os enfermos em seu próprio domicílio, quando isso era possível; de situações de morte e a instrução dada às Irmãs Filhas da Caridade sobre como deveriam proceder ao perceberem que o enfermo necessitava da presença de um padre e, em situação de morte, como deveriam colaborar na organização do funeral; e sobre a humanização dos hospitais – o que é tão debatido ainda nos dias atuais.
Seguir o legado de São Vicente é estar aberto e disponível para ir ao encontro de quem está doente, de quem está enfermo! “O paciente é sempre mais importante que sua enfermidade, por isso nenhuma abordagem terapêutica pode prescindir de escutar o paciente, sua história, suas angústias, seus medos” (Papa Francisco)
A SSVP Brasil de hoje não esquece os ensinamentos de Ozanam de centenas de anos atrás e segue no encontro dos enfermos. Trata com carinho e respeito seus atendidos hospitais espalhados pelo Brasil. Também socorreu diversas cidades na época da pandemia de Covid-19, criando inclusive a Rede de Afeto, que presta atendimento psicológico até os dias atuais para vicentinos, assistidos e não vicentinos, e que tem como uma de suas integrantes a consócia Ada.
Sigamos, vicentinos, entendendo as enfermidades atuais, em suas mais diferentes modalidades e manifestações, e busquemos cada ver mais estarmos abertos aos enfermos, de todas as maneiras possíveis e viáveis em todas as nossas Unidades Vicentinas.