A presença de Cristo Ressuscitado nos Pobres
Diante de todas as dificuldades que perpassam a existência de um Pobre, costumeiramente costuma-se relaciona-lo ao Cristo Sofredor. De fato, suas feridas marcam-no da mesma maneira que as Chagas marcaram o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todavia, ao se aprofundar mais na vida de uma pessoa que se encontra em condição de pobreza, pode-se ter a mesma experiência dos discípulos após o desconcertante evento da Cruz, pois ordinariamente contempla-se o Cristo que, apesar da morte, dos sofrimentos, ressuscita. Isto é, um indivíduo não tanto marcado pelo sofrimento quanto o é pela superação.
Na exortação apostólica denominada Gaudete et Exsultate o Papa Francisco lembra a importância dos “santos ao pé da porta”, ou seja, das pessoas que, na vida cotidiana e pode-se até dizer, de maneira cotidiana, procuram uma íntima relação com o Altíssimo. São homens e mulheres que no anonimato e de forma ordinária vivem o extraordinário fato de conformarem sua caminhada à vontade de Deus. A respeito dessas pessoas afirma com ternura o Santo Padre: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir” (GE, n. 7).
Esta sublime reflexão do Vigário de Cristo tem continuidade nas suas ponderações acerca de São José, que foi um grande personagem do período da vida de Jesus que se denomina “oculta”, tal a humildade e discrição que possuía este que foi digno de ser chamado pai de Jesus. Em verdade, o Papa afirma que um dos fatos que o incitou a falar de São José foi a atuação tão necessária de pessoas anônimas nesta pandemia (FRANCISCO, Patris Corde, p. 8-9).
Com isso, percebe-se que há nos Pobres uma imagem belíssima de Jesus. Quando cada anônimo decide não desistir de caminhar, de fazer a vontade de Deus, manifesta ao mundo a ressureição do Cristo que sofreu, mas que não abandonou sua missão e desta maneira, torna-se alguém apto a afirmar: “estive morto, mas eis que estou vivo” ( Cf. Ap 1,18)
Há, em conformidade com a reflexão feita até o presente, um belo testemunho verídico de uma senhora que cuida incansavelmente de seu filho paraplégico, uma mulher marcada pela falta de recursos que não pode ficar mais de três horas fora de casa por causa de seu parente enfermo, mas que busca nos seus escassos momentos “livres” participar da celebração da palavra em sua comunidade e alegra-se visivelmente a cada vez que comunga o corpo de Cristo.
Eis, o próprio Cristo Ressuscitado refletido na vida desta pessoa e de tantas outras que estão ao nosso lado e por vezes passam despercebidas. Eis o sorriso da esperança estampado no rosto de uma mulher que vive cercada por fatos que poderiam leva-la ao desespero. Eis, por fim, a presença de Cristo Ressuscitado nos Pobres.
Seminarista Raimundo de Freitas Brito da Silva (Congregação da Missão)