SOS Rio Grande do Sul: Vicentinos fazem sua parte com planejamento
As enchentes que tomaram conta do Rio Grande do Sul no final de abril e no mês de maio, principalmente na região central do Estado, deixaram prejuízos e destruição até os dias de hoje. Os rios da região e lago Guaíba, em Porto Alegre, chegaram a níveis históricos de volume de água, com chuvas constantes até então jamais vistas no Estado. Um cenário de devastação acometeu parte dos 84.751 Km² da região hidrográfica do Guaiba, atingindo mais de 400 municípios. Em momentos de aflição definidos pela presidente do Conselho Central de Porto Alegre, Patrícia Maria Klein, como “cenário de grande calamidade”, os vicentinos se mobilizaram, se reuniram para organizar a melhor forma de agir no auxilio aos necessitados.
“O que vimos foi literalmente um cenário de guerra, sem as bombas, mas com uma destruição nunca vista. Cerca de 85% da região ficou debaixo d’água, pessoas desabrigadas, infraestrutura como eletricidade e saneamento acabada, estradas engolidas e aeroporto fechado. As pessoas queriam ajudar, mas não tinha como essa ajuda chegar. E isso melhorou hoje, mas acontece em algumas áreas ainda”, conta a presidente do Conselho Central.
Patrícia ressalta a extensão da destruição, lamentando as perdas humanas, o desaparecimento de seus lares, incluindo os registros da história pessoal das famílias, o ambiente totalmente modificado pela tragédia. Mas ressalta algo que para muitos que veem as cenas de destruição pela televisão e internet é difícil de perceber: “O rebanho do bem é enorme. As pessoas só estavam adormecidas, mas, na hora que foi preciso, os gaúchos se uniram. Quem não tinha perdido tudo, se uniu para ajudar. Até quem perdeu entes queridos e suas casas também ajudou a outros. Foi uma corrente do bem enorme e os vicentinos não estão fora dela. Muito pelo contrário”, destaca.
“O Conselho Central de Porto Alegre é composto por 21 Conferências, tem 129 membros proclamados e contempla cidades do interior e litoral, com o atendimento de aproximadamente 350 famílias. Em sua área de atuação aconteceram grandes prejuízos. Além de Porto Alegre, Canoas, Eldorado, a região das Ilhas do Guaíba ficaram literalmente debaixo d’água, isso sem contar cidades da região da serra que sofreram , fora as enchentes, deslizamento de terra. Muitas famílias ficaram desalojadas por terem que abandonar suas casas. Famílias de pessoas assistidas pelas Conferências e funcionários das Obras Unidas também sofreram grandes perdas, mas mesmo assim não se ausentaram e auxiliaram na continuidade dos trabalhos. Tivemos situações emocionantes, exemplos de integridade, moral, de carisma vicentino. Funcionários nossos deixaram suas vidas de lado para nos ajudar a cuidar dos nossos idosos. Foi uma coisa muito bonita de se ver”, conta Patrícia emocionada.
O poder da ajuda
Quando a chuva chegou a Porto Alegre, Patrícia conta que a diretoria estava considerando habilitar a sede do Conselho Central para receber os desabrigados da região, pois eram muitos e havia a necessidade de disponibilizar locais seguros. “Nós sabíamos que a chuva ia vir para cá, mas não tínhamos ideia de que o impacto seria tanto e a sede do Conselho Central também acabou sendo inundada. Estamos agora na fase de limpeza pesada das casas, inclusive do Conselho, que teve grande aprte atingida. Temos duas Obras Unidas vinculadas e, graças a Deus, nenhuma delas foi invadida pelas águas. No Lar Vicentino de Porto Alegre a água parou duas quadras antes, mas sofremos, como todos, com falta de água potável, queda de energia, problemas de medicamentos por cerca de 10 dias. Já no Lar Vicentino Dr. Décio Rosa, em Canoas, tudo foi preservado e pudemos abrigar mais 30 idosos de outros lares”.
A ajuda veio de todo o Brasil e com o Conselho Nacional do Brasil (CNB) e Unidades Vicentinas a mobilização não foi diferente. “O CNB, através do presidente Márcio José da Silva, rapidamente entrou em contato e nos perguntou como ajudar. Naquele momento, era imprescindível o essencial: água, alimento, medicamentos. E foi isso que o CNB fez: organizou a campanha de arrecadação e nos mandou dinheiro para comprarmos o que tinha disponível. Por muitos dias ficamos ilhados. Pela destruição das rodovias e pontes a ajuda não tinha como chegar de outros lugares”, lembra.
Planejamento do Bem
O Brasil inteiro se movimentou e as doações começaram a chegar ao Estado de maneira maciça. “Primeiro, nós nos organizamos como comunidade e, vicentinos que somos, fizemos o que podíamos pelas pessoas no socorro mais emergencial. Procuramos a Cúria Metropolitana de Porto Alegre e fomos orientados pelo bispo auxiliar Dom Odair Miguel quanto ao recebimento e distribuição de donativos materiais humanitários. Conforme as doações foram chegando, conseguimos nos organizar como SSVP, nos unindo a Cáritas, às pastorais das paróquias e entidades da Igreja Católica, ao Poder Público e outras instituições, trabalhando de maneira mais planejada”.
E planejamento é a palavra de ordem da presidente do Conselho Central de Porto Alegre. Ela conseguiu deixar a emoção de lado e ter a capacidade de ver com os olhos da estratégia a melhor maneira de ajudar a quem precisa. “O dinheiro das doações continuaram chegando na conta especial criada pelo CNB, mas pedi para o Conselho ir guardando, pois o Brasil inteiro estava fazendo doações. E sabemos que na hora da reconstrução dos lares no Rio Grande do Sul vai faltar dinheiro, pois o Poder Público não conseguirá arcar com tudo. E é aí que os vicentinos vão mostrar sua compaixão, ajuda e a Rede de Caridade que é nossa vocação. O que vimos no Rio Grande do Sul, nos alojamentos, foi uma determinação e uma capacidade de ajudar sobre-humana. E os vicentinos estão presentes junto as suas Conferências, fazendo o possível e o impossível para levar conforto humano e material para aquelas pessoas que perderam tudo. Não podemos nos esquecer que muitos de nós e de nossos assistidos também tiveram perdas. Na nossa sede, a água subiu mais de 1 metro e contamos para a limpeza pesada com vicentinos e paroquianos da Paroquia Santa Cruz, da cidade de Canoinhas em Santa Catarina , que nos mandou um ônibus de anjos que vieram em auxilio nosso. Vicentinos raiz que vieram em nosso socorro”.
Patrícia alerta aos vicentinos de todo o país que querem ajudar que se comuniquem com o Conselho Central para saber qual a melhor forma de auxiliar. “Os vicentinos não estão de braços cruzados, estamos agindo e com o apoio incondicional do CNB. A hora certa da ajuda vai chegar. Precisamos que a água baixe em sua totalidade, que haja um período de estiagem para que possamos contabilizar o prejuízo e começar o trabalho pesado de reerguer casas, infraestrutura, comércios. Muitos perderam seus empregos e isso vai pesar lá na frente. Pois chega uma hora que a ajuda diminui muito ou cessa. Temos agora que planejar isso, ver os locais onde as pessoas vão poder voltar, o que é preciso para voltar, e o que fazer com quem não poderá voltar. Nossos albergues na maioria são em escolas e as aulas têm que recomeçar. Enfrentaremos muitos problemas e é aí que contaremos com os vicentinos de todo o país”, conta.
Patrícia sabe que poderá contar com os vicentinos. “Ser vicentino e nossa formação na SSVP nos dá um preparo diferenciado para agir seguindo os passos de São Vicente de Paulo, das Irmãs da Caridade e de nosso fundador Beato Antonio Frederico Ozanam, em ação somos mensageiros da fé e da esperança. A gente tem uma disposição peculiar, a caridade nos é intrínseca e sei que isso vai ajudar e muito a reerguer nosso Estado e a nossa população”.
O planejamento de Patrícia não vai se resumir aos seus. “Nossas Conferências estão todas operacionais, mas temos que pensar em como ajudar os vicentinos que tiveram perdas, os assistidos e, é claro, o resto da população”, diz.
Após esse planejamento, Patrícia irá passar ao CNB o que será feito e como, e um chamamento será feito. Ela destaca que “ A campanha de arrecadação continua a pleno vapor e todo o dinheiro será usado no momento certo”.
Campanha
A Campanha do CNB para ajuda às vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul está acontecendo desde abril. Os interessados podem doar pela a chave PIX 21984632746, em conta especialmente criada em nome do Conselho Nacional do Brasil.