Refugiados Sírios recebem apoio da Igreja Católica em Belo Horizonte
Enquanto milhares de alemães e austríacos prestam solidariedade aos imigrantes na Europa e o papa Francisco pede que as igrejas abram suas portas para receber quem está fugindo da guerra e precisa de ajuda, em Belo Horizonte, o pequeno Riad Alzight, de 4 anos e olhar assustado, é o mais novo refugiado sírio abrigado pela Igreja Católica. Seu maior espanto ao chegar foi ver a cidade iluminada. “Olha, aqui tem luz”, comentou Riad, que nasceu e cresceu na guerra. É que o conflito na Síria – país do Oriente Médio com 3/4 do tamanho do estado de São Paulo, mas pouco mais da metade da população, 22 milhões de habitantes – devastou o país e destruiu toda sua infraestrutura. Energia elétrica é coisa rara por lá, conta o tio de Riad, Khaled Thomeh, de 31, engenheiro de alimentos, que mora na capital mineira com parte da família há um ano e três meses. Ele integra a comunidade de cerca de 2 mil sírios refugiados em todo o Brasil desde que explodiu a guerra civil, em março de 2011.
“O espanto dele me deixou triste. É que parece comum para todo mundo, mas, na Síria, não mais. A guerra acabou com tudo”, conta Khaled. Riad chegou a Minas no sábado, com a mãe, grávida de seis meses. O pai ficou na Síria, pois não teve coragem de abandonar a família em meio a um confronto sangrento que já deixou mais de 240 mil mortos, 4 milhões de refugiados abrigados mundo afora e inúmeros deslocados dentro do próprio país. Considerada hoje pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a maior catástrofe humanitária deste século, a guerra na Síria chamou a atenção do mundo semana passada por causa da imagem do menino Aylan, de 3 anos, encontrado morto num balneário de luxo na Turquia. Ele se afogou durante a tentativa da família de fugir da Síria pelo Mediterrâneo.
Khaled Thomeh teve mais sorte e conseguiu sair do país com a mulher, a economista Mary Ghattas, de 27, e os pais, Waled Tomeh, de 59, e Maria Alhaddad, de 56. E a família já ganhou um integrante brasileiro: a pequena Yasmin, de cinco meses e olhos e cabelos bem pretos, como a maioria dos sírios, primeira filha de Khaled e Mary. A bebê é também a primeira descendente de refugiados nascida em Belo Horizonte. Para ajudar nas finanças, a família tem feito comida árabe para vender, já que apesar de Khaled e o pai terem curso superior, arrumar emprego é difícil por causa da língua e da burocracia para validar o diploma. Todos moram em um apartamento no Centro de BH. Ele chegou à capital mineira com ajuda da Paróquia Sagrado Coração de Jesus que congrega, desde 1925, os católicos árabes da capital. A paróquia mantém 16 apartamentos e uma casa de acolhida na região central para receber os refugiados, que somam 74 pessoas. No começo chegavam apenas homens jovens e solteiros. Hoje, muitos vêm com a família.
Wassim Al Abdalla, de 33 anos, técnico em informática, é outro refugiado abrigado em BH. Ele diz não ter esperança no fim da guerra, mas tem de voltar para rever o pai de 70 anos, que ficou lá. Wassim acredita na nova vida na capital mineira, onde trabalha de vendedor em uma livraria católica. Mesmo sonho da família do engenheiro mecânico Milad Deeb, de 54, que chegou há dois meses com a mulher, Omaima Deeb, de 46, e os filhos, Fadib, de 15, e Estefan, de 13. Os meninos já estão na escola, Milad trabalha como vendedor e a mulher faz quibes para completar a renda. Falando português com dificuldade, Milad quer fincar raízes no Brasil que, segundo ele, o recebeu como uma família.
Acolhimento
O que ameniza o sofrimento de todos é o acolhimento da comunidade síria e da população em geral e o empenho do padre George Rateb Massis, que veio da Síria para o Brasil em 2003 para assumir a Paróquia Sagrado Coração de Jesus. Foi ele quem trouxe os primeiros refugiados, a maioria deles de Homs, terceira maior cidade da Síria e berço do levante contra o regime do presidente Bashar al-Assad. Até pouco tempo, Homs, terra natal do padre George, estava sob o domínio dos rebeldes, até ser reconquistada recentemente pelo governo. A primeira providência do religioso antes de trazer um refugiado é arrumar emprego para a pessoa. “Não só para ajudar no sustento, mas para facilitar a integração e levantar a autoestima de quem chega por aqui”, conta. “O trabalho é também um tratamento psicológico para quem está sem atividade na Síria, dormindo e acordando com a sinfonia das bombas e do choro, vivendo no meio só de coisas ruins. Sempre conto com a gentileza e a boa acolhida dos brasileiros”, destaca o padre. Segundo Massis, os refugiados chegam com o passaporte e a roupa do corpo. “Temos que providenciar tudo. A igreja mantém uma casa matriz onde todos são recebidos. Lá tem tudo para essa acolhida, inclusive professor de português. Depois de estarem mais adaptados e trabalhando, a gente acha um apartamento para os que já se enturmaram. Com a saída da casa, eles abrem espaço para que possamos receber outros.” Tudo é mantido com doações que, ultimamente andam escassas, principalmente para fazer frente à demanda cada vez maior por asilo.A igreja mantém a campanha “Juntos pela Síria” e quem quiser pode fazer doações (Banco do Brasil, agência 3494-0/ conta 30.351-8, em nome da Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte).
Fonte: Estado de Minas on line (http://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2015/09/07/interna_internacional,685751/solidariedade-sem-fronteiras.shtml)
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