Presidentes nacional e geral respondem perguntas de internautas
A Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) brasileira promoveu no último domingo (28) uma live com os confrades Cristian Reis da Luz e Renato Lima de Oliveira, respectivamente, presidente do Conselho Nacional do Brasil e presidente do Conselho Geral Internacional da instituição. Foram quase 2h de bate-papo e cerca de 5 mil visualizações no site de relacionamentos Facebook.
Os vicentinos fizeram muitas perguntas que não deram tempo de ser feitas no ar, por isso, os confrades Cristian e Renato disponibilizaram as respostas para que fossem divulgadas no site SSVPBRASIL:
A exemplo das reuniões on-line, no âmbito do Brasil, às quais se tornaram válidas, não poderia o CNB autorizar assembleias on-line para eleição e outras?
Confrade Cristian – Para eleição ficaria mais difícil devido à necessidade de manter o voto secreto. As assembleias para prestação de contas anual das Unidades com personalidade jurídica estão permitidas, inclusive o CNB fez sua assembleia no início de junho com os CMs e diretoria, de forma on-line.
Por que muitas publicações vicentinas não são traduzidas para o português e disponibilizadas no Brasil? O CGI e o CNB poderiam disponibilizá-las. Existe algum trabalho sobre isso?
Confrade Renato – O site do Conselho Geral é feito em quatro idiomas, e todos os nossos arquivos estão em Português também. Quanto a outros documentos, textos de formação, livros e similares, de propriedade intelectual do Conselho Geral Internacional, que estejam impressos e em outras línguas, eles têm direito autoral livre e gratuito para qualquer Conselho Nacional para republicar tais obras em seus países respectivos. Basta o Conselho Nacional solicitar que iremos conceder os direitos. Teremos toda a alegria em ceder esses livros para ampla tradução e difusão.
Como deve ser a postura de um membro da Conferência caso algum parente precise de ajuda?
Confrade Cristian – Sugiro que, para evitar quaisquer constrangimentos, esse parente seja encaminhado para uma outra Conferência ajudar. Importante que a Conferência que for analisar a situação possa fazer a sindicância normalmente e que a análise seja feita de forma isenta.
Explique para nós como é essa dinâmica de territórios. Ouvi outro dia o senhor dizer que não é a mesma coisa que países. Às vezes, um país tem dois territórios?
Confrade Renato – A SSVP internacional possui uma classificação diferente, pois existem certas singularidades no cenário mundial entre os países. Por exemplo, no caso da China, contamos no Conselho Geral quatro territórios: China, Taiwan, Macau e Hong Kong. No caso da Itália, contamos quatro territórios: Itália, Vaticano, São Marino e Tirol do Sul. Diante dessa realidade, resolvemos não adotar a classificação de país feita pela ONU, e usamos algo mais parecido com a FIFA. Assim, estamos em 151 territórios. Até o final de 2022, podemos ainda alcançar mais 8 novos países. Oremos.
Como o Brasil está colaborando com a Jumelage Internacional?
Confrade Cristian – O Brasil tem colaborado com o CGI para que a Jumelage aconteça, recentemente, enviamos um valor para o Fundo de Solidariedade Internacional do CGI, além das nossas contribuições anuais normais. Temos dois países irmãos que estamos cadastrados para ajudar (de Conferência para Conferência) sendo o CNB o elo, mas ainda não foi concretizado. Divulgamos no ano passado e, por enquanto, não conseguimos finalizar essa ajuda aos vicentinos de São Tomé e Príncipe, e também do Paraguai. Caso sua Conferência queira fazer a jumelage entre em contato por e-mail com o confrade Carlos Henrique David (Kaike) – [email protected], que o mesmo dará todas as informações necessárias.
Como é feita a análise final das Cartas de Agregação, porque mandamos as cartas mas não temos resposta se elas foram aprovadas ou não?
Confrade Renato – O nosso staff em Paris recebe os documentos enviados pelos países e faz uma primeira análise. Geralmente, os pedidos de Cartas de Agregação já chegam bem organizados e bem preenchidos, quase sem falhas ou inconsistências. O Conselho Geral faz apenas uma checagem básica: se a Conferência se reúne regularmente, se foi anexada a ata de fundação, se há número mínimo recomendável de membros (sete membros) etc. Estando tudo OK, a Seção Permanente, que se reúne em junho e em dezembro, aprova as agregações e as instituições. Raros são os casos de rejeição. Tão logo haja a aprovação, em menos de um mês, a Carta volta ao país de origem para ser entregue à Conferência ou Conselho. Aceleramos muito esse processo desde o início do nosso mandato. E mudamos o formato da Carta de A3 para A4 para facilitar a impressão dela.
Qual a importância de se pensar em Projeto Social e como se pensar em Projeto Social com tantas incertezas?
Confrade Cristian – Temos percebido que os Projetos Sociais de fato têm mudado a vida de muitos assistidos da SSVP, eis aí sua importância. Vale ressaltar que o Projeto não deve vir de cima para baixo, ele passa necessariamente pela escuta dos desejos e sonhos dos assistidos. No momento que estamos vivendo, mais do que nunca, a necessidade de pensarmos nos Projetos Sociais, pois a situação de muitas famílias após pandemia não será a mesma.
Certa vez, ouvi-te dizer que é preciso mudar a mentalidade dos dirigentes vicentinos. O que quis dizer com isso?
Confrade Renato – Sempre digo isso, estou até rouco. Já bastam os problemas de pobreza e de exclusão social que grassam por aí. Se tivermos dirigentes vicentinos com a mente aberta, bem preparados, democráticos e com visão de conjunto, daremos saltos largos na administração e avançaremos muito no que diz respeito à gestão interna na SSVP. Se, por outro lado, tivermos dirigentes estagnados, travados, medrosos e carreiristas, não atingiremos bons resultados esperados por Deus e pelos Pobres. Por isso, temos que saber escolher os nossos líderes para que, depois, não fiquemos reclamando pelos cantos. Eleição não é coisa simples!
Como podemos agir quando voltarmos após a pandemia para não perdermos nossos confrades e consócias?
Confrade Cristian – Será fundamental o comprometimento, um olhar atento e fazer que o outro sinta o sentido de pertença à SSVP. Ao perceber que um confrade/consócia não está aparecendo na reunião, com pequenos gestos, podemos resgatá-lo: com um telefonema, uma visita amiga…, mostrando de sua importância para a SSVP e para os Pobres. Será oportuno também recrutar novos membros, mostrando que a necessidade aumentou e, por isso, precisamos de mais rebanho.
Há alguma coisa que os países podem aprender com o Conselho Geral Internacional?
Confrade Renato – Há muitas boas práticas que o Conselho Geral adota, internamente, e que poderiam servir de exemplo para os demais Conselhos Nacionais. Por exemplo, o estudo sobre os sete fundadores, o modelo de eleições internacionais (segundo turno), os departamentos de ação solidária, os padrões de formação e de treinamento contidos no “Programa Universal”, o relacionamento com autoridades políticas e entidades do Terceiro Setor. Enfim, da mesma maneira que o Conselho Geral aprende com os países, os Conselhos Nacionais podem aproveitar as boas práticas do Conselho Geral e implementá-las em seus territórios.
Por que não elaborar um programa de ação para recuperar os vicentinos que repentinamente se tornaram ausentes da SSVP? Por que não ouvi-los sobre os motivos que o levaram a essa atitude?
Confrade Cristian – Penso que não precisaríamos de um programa de ação, pois faz parte dos membros da Conferência e, principalmente do presidente, tentar entender o motivo e mostrar a importância do membro no seio da Conferência. Por outro lado, hoje o Departamento Missionário tem feito esse trabalho na prática, da escuta e do resgate dos membros afastados.
É uma alegria ver um brasileiro à frente do Conselho Geral e, melhor ainda, fazendo um bom trabalho. Quais outros presidentes-gerais são inspiração para o senhor?
Confrade Renato – Antes de tudo, obrigado pelas palavras. É sempre bom ouvir um elogio, ainda mais vindo do Brasil. Tudo o que fazemos na presidência-geral é pelo bem do Conselho Geral. Mas, na verdade, divido esse elogio com toda a diretoria internacional, os empregados da sede e os países-membros da Confederação, pois, na verdade, o Conselho Geral é “o Conselhos dos Conselhos” e sua razão de existir é manter a entidade unida, com base na mesma Regra, fundamentos e princípios. Minha inspiração é o 12º presidente-geral, Amin Abouhamad de Tarrazi, franco-libanês que é o meu farol. Se eu puder ser 10% do que ele foi, estarei na glória.
Qual é a sua principal meta a ser alcançada?
Confrade Cristian – Não diria a principal, pois temos muitas metas que estão expostas no nosso plano de trabalho que podem ser consultadas em https://ssvpbrasil.org.br/wp-content/uploads/2019/01/plano-estrat%C3%A9gico.pdf . O meu grande desejo é uma SSVP aberta ao novo, moderna no que é preciso e o mais importante: que tenha o foco sempre na promoção dos Pobres.
Rosalie Rendu, em muitos países do mundo, é reverenciada como co-fundadora da SSVP. Ela também receberá um estudo temático pela sua importância em formar e ensinar os fundadores a visitar e assistir aos Pobres?
Confrade Renato – Boa pergunta. Nosso mandato termina em 2022, e até lá, todos os fundadores serão estudados, anualmente. Porém, qualquer que seja o próximo presidente-geral, iremos sugerir que os anos temáticos continuem, pois temos ainda várias personalidades vicentinas que merecem ser estudadas, como Rosalie Rendu, Amélia Ozanam, Jean-León Le Prevost, Adolphe Baudon, Jules Gossin e todos os demais presidentes-gerais.
Qual o marco mais importante para o CNB na sua gestão?
Confrade Cristian – Eu acredito que a inovação e a organização. Uma gestão moderna, de escuta atenta e ação para refletir nas bases e na vida dos Pobres.
É correto tirar fotos dos assistidos durante a entrega de cestas?
Confrade Renato – Certas fotos, para certas finalidades, e com a autorização expressa das pessoas fotografadas, podem ser sim usadas com moderação e critério. Nos demais casos, é preciso ter-se muita cautela, pois não podemos expor a figura dos nossos assistidos ou beneficiados pelas Obras, como creches e lares de idosos. O Conselho Geral editou uma cartilha sobre isso, para alertar aos confrades e consócias sobre certos posicionamentos nas redes sociais e nos demais meios de comunicação.
Quais são seus versículos prediletos da Bíblia?
Confrade Renato – Além do “Quem quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Marcos 9, 32), gosto muito dos seguintes versos bíblicos: a) “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, devemos socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: mais bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20, 35); b) “A quem muito tem, muito será cobrado” (São Lucas 12, 48); c) “Dai, e ser-vos-á dado” (São Lucas 6, 38); d) “Pedi e recebereis” (São Mateus 7, 7-12). Todos, lidos conjuntamente, mostram as promessas de Jesus a todos os que cumprem a palavra do Mestre em prol do próximo.
Como o senhor vê a juventude vicentina do Brasil?
Confrade Renato – Estou muito contente com os jovens confrades e as jovens consócias do Brasil. Vocês são um exemplo para os outros países. Eu ingressei na SSVP em 1986, com 15 anos de idade, ou seja, quando ainda era um adolescente. Cresci na SSVP. Todos podem esperar muito de mim, como presidente-geral, no que diz respeito à juventude. No âmbito do Conselho Geral, estamos colhendo os frutos após esses quatro anos em que apoiamos muito a juventude. Contem comigo, sempre.
Como o senhor consegue encontrar tempo para as suas atividades como um pai dedicado, marido exemplar, ao trabalho e como bom filho, conciliados às atividades na Conferência e ao CGI?
Confrade Renato – Esta pergunta é muito difícil de ser respondida, pois somente Deus mesmo pode explicar essa situação; é Ele quem governa, não eu. Eu sempre achei que seria muito complexo ser eleito presidente-geral, diante do meu estilo de vida, família com dois filhos, trabalho profissional, viagens pelo emprego, estudos e outras atribuições em sindicatos aqui em Brasília. Mas foi Deus quem nos escolheu. A partir de então, entreguei nas mãos do Senhor para que Ele me desse as forças necessárias para saber conduzir esse ministério. É um grande privilégio, uma grande honra e uma imensa responsabilidade poder servir como o presidente-geral de todos os confrades e as consócias do mundo, além de ser um grande reconhecimento à SSVP brasileira, onde nossa entidade possui o maior contingente de membros e número de Conferências e obras sociais. Sou oriundo de um país em desenvolvimento, com muitos desafios sociais, morais e econômicos, e carrego comigo esse olhar, essa cultura e essa maneira de ver o mundo. Nem sempre vou agradar às pessoas, mas saibam que sempre dou o meu melhor para a Sociedade de São Vicente de Paulo.
Fonte: Redação do SSVPBRASIL