Páscoa: O homem novo segundo o projeto de Deus
É Páscoa! Aleluia!
O núcleo de todo anúncio e a primitiva profissão de fé da comunidade apostólica e dos primeiros cristãos, consiste na boa notícia da ressurreição de Jesus, daquele mesmo Jesus de Nazaré que morreu crucificado no Calvário: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa proclamação, é vã a nossa fé” (Cf. 1Cor 15,14-18). Nesta certeza, firma-se toda fé do Novo Testamento.
Celebrar todos os anos a solenidade pascal, significa para nós cristãos tomar posse dos Mistérios que nos deram a vida em plenitude. Reviver a Páscoa significa desfrutar, desde já, o começo de uma realidade nova, que será vivida por todos nós quando realizarmos nosso encontro definitivo com o Senhor. Somos convidados com Cristo a realizarmos verdadeiramente uma “Passagem” da nossa condição de escravos, para a condição de filhos da luz.
Cristo ao realizar o projeto de Deus abraçou livremente a paixão e a cruz, concedendo assim ao homem por meio de sua obediência, o livre e gratuito acesso aos mistérios do Pai, que antes estavam interrompidos, devido à desobediência de Adão. Jesus mediante o Mistério de sua Páscoa realiza este desígnio de amor de Deus para com as suas criaturas que consiste em reconduzir a humanidade ao encontro com Criador recapitulando nele toda a humanidade: “Ele é a imagem do Deus invisível, primogênito de toda criação, pois tudo foi por ele criado, no céu e na terra: o visível e o invisível, majestades, dominações, autoridades e potestades. Tudo foi criado por ele e para ele, ele é anterior a tudo, e nele tudo tem sua própria consistência. Ele é a cabeça do corpo, da Igreja. É o princípio, primogênito dos mortos, para ser o primeiro de todos. Nele Deus decidiu que residisse a plenitude; que por meio dele tudo fosse reconciliado consigo, fazendo as pazes pelo sangue da cruz entre as criaturas da terra e as do céu” (Cf. Cl 1,15-20).
Na Páscoa, Cristo recapitula toda a história da salvação, procurando levar a bom termo o que antes havia sido manchado pela culpa do pecado. O pecado de Adão se torna para nós, o meio pelo qual a humanidade é resgatada, redimida, renovada e assumida mais uma vez por Deus.
Existe uma estrofe no Precônio Pascal (Exsultet), entoado na noite da Vigília Pascal, que resume este projeto de reconciliação de Deus com a humanidade e manifestado por meio de seu Divino Filho. Eis a estrofe: “Ó pecado de Adão, indispensável, Pois o Cristo o dissolve em seu amor; Ó culpa tão feliz que há merecido a graça de tão grande Redentor”. A antiga culpa de Adão é transformada por meio do Mistério Pascal em salvação onde as portas da eternidade são abertas para os fiéis redimidos por meio do gesto redentor de Jesus. “Jesus, sabe fazer de todas as culpas humanas, uma vez reconhecidas, ‘felizes culpas’, culpas que não são lembradas mais a não ser pela experiência de misericórdia e de ternura divina do qual foram ocasião” (Raniero Cantalamessa. Páscoa uma passagem para aquilo que não passa). Desta maneira, a festa da Páscoa, torna-se, portanto, a grande festa da Misericórdia Divina.
Não podemos jamais desassociar a Páscoa do grande mistério da Cruz. A Cruz, sinal da árvore da vida, neste momento tão importante da história, substitui a antiga árvore do paraíso, árvore esta que outrora trouxe a perdição e o afastamento do homem com Deus, criando assim uma desarmonia entre a criatura, a criação e com o Criador. A antiga árvore, conhecida no Gênesis como a árvore do conhecimento do bem e do mal, dá o seu lugar ao Santo Lenho da Cruz, que para os que crêem no Cristo se torna instrumento da sabedoria de Deus. Cristo inaugura com o mistério de sua paixão, morte e ressurreição a nova criação; criação esta totalmente recriada e marcada com o sangue do Cordeiro Divino que tira o pecado do mundo.
Com a Páscoa a semente da vida divina, colocada por Deus na criatura humana atinge sua fecundidade extrema, porque em Jesus habita a plenitude de toda a divindade. A humanidade vê realizado por Deus um grande tempo. É o tempo da graça que chega até nós em toda a sua plenitude. Em Cristo obtemos o começo de uma nova realidade. É a inauguração de um “novo céu e de uma nova terra”. Chega ao homem o projeto de um mundo sem luto, dor e lágrimas. Um mundo onde haja paz, justiça, alegria e vida sem sombra e sem fim. Na Páscoa celebramos a vida em plenitude e a plenitude da nossa vida Cristo Jesus foi imolado para que por Ele tivéssemos vida em abundância.
A vida venceu a morte. Nossa vitória e nossa esperança definitiva tem um nome: Jesus Cristo, o Senhor da vida! Que possamos abraçar este projeto de vida nova inaugurada por Cristo e que esforcemo-nos para que cada vez mais possamos conquistar as coisas do alto onde Cristo está e para onde caminhamos. Sendo assim alcançaremos o estado do homem novo, redimido e configurado a Cristo segundo o desígnio salvífico de Deus.
A todos uma feliz e santa Páscoa!
Jonas Ferreira
Comunidade Shalom