Padres dos caminhões-capela falam sobre a realidade que os caminhoneiros enfrentam nas rodovias
Três padres vicentinos – Miguel Staron, Arno Longo e Germano Nalepa – da Congregação da Missão, dirigem caminhões pertencentes à Pastoral Rodoviária e possuem trânsito livre nas rodovias do país durante esta paralisação dos caminhoneiros. A missão do trio é evangelizar caminhoneiros, celebrando e atendendo confissões em postos de gasolina.
A equipe de jornalismo do SSVPBRASIL conseguiu fazer contato com dois destes padres: pe. Miguel e pe. Arno.
Os dois padres apoiam a paralisação, pois, conhecem bem de perto o dia a dia dos caminhoneiros brasileiros. Os veículos dirigidos por eles, se transformam em capelas para as celebrações feitas aos viajantes. Eles passam a maior parte do ano nas rodovias e também sofrem com a falta de segurança e os elevados preços de combustíveis e pedágios. “Não quero que me interpretem mal, mas o caminhoneiro brasileiro hoje tem vida de vida de cachorro”, explica padre Arno: “igual a um cachorro, ele não tem nome, é chamado por assovio ou de motorista; igual a um cachorro, come restos de restaurante, porque sempre chega tarde para almoçar; igual a um cachorro, por falta de aporte nas rodovias, muitas vezes a privada é o pneu do caminhão; igual a um cachorro que mora em casa de lata, o motorista também mora na cabine do caminhão”.
Enquanto ele concedia esta entrevista, ao fundo era possível ouvir gritos. Os caminhoneiros comemoravam a chegada de doações de marmitas da comunidade local, após 9 dias de greve. Tempos depois, o som era do hino nacional. Os versos ‘Mas, se ergues da justiça a clava forte/Verás que um filho teu não foge à luta’ pareciam mais uma motivação para os caminhoneiros que resistem na paralisação.
“O cristão deve apoiar a paralisação porque é uma questão de justiça, valorização das pessoas e do direito do caminhoneiro ganhar o pão com honestidade” – padre Arno Longo
A principal preocupação de Arno é quanto ao oportunismo. Há grupos se aproveitando da situação, inclusive, colocando próximo às manifestações placas relacionadas à intervenção militar. “Esta é uma questão que nos preocupa muito, porque os caminhoneiros não são massa de manobra. A luta não é para tirar o Governo, mas para tirar do Governo esta política de opressão”.
Padre Miguel também faz uma observação sobre este tema. “Muita gente está criticando o motivo dos caminhoneiros não reivindicarem a queda no valor da gasolina. A paralisação é em prol da luta deles. Por que a sociedade também não cria coragem e vai ‘bater panela’ por aí”, refere-se às manifestações que aconteceram ano passado, quando manifestantes batiam panelas dentro de casa. “O caminhoneiro não tem condições de resolver todos os problemas do país”.
Fonte: Redação do SSVPBRASIL