Padre Vicente de Paulo: um missionário sacerdote
Hoje dia 27 de setembro é um dia muito especial para toda a família vicentina, pois celebramos com alegria a vida e o testemunho de São Vicente de Paulo. O santo da caridade inspira a milhares de pessoas ao redor do mundo a abraçar a missão junto aos mais pobres e sofredores. Muitos de nós conhecemos a sua biografia e constatamos que São Vicente foi um grande missionário que dedicou toda a sua vida ao serviço dos mais pobres e sofredores. Mas vamos falar de algo que ainda é pouco conhecido da sua trajetória: o seu sacerdócio.
Além da sua destinação aos Pobres e de seu compromisso com a promoção dos nossos Mestres e Senhores, Vicente de Paulo era um padre. É famosa entre nós a história de São Vicente e a sua busca pelo sacerdócio, que, à primeira vista, pode parecer um tanto quanto equivocada. As motivações iniciais de Vicente de Paulo podem parecer controversas, já que pensava em ser padre para ajudar financeiramente a sua família. Mas a sua preocupação com a família e a fé que nutria em seu íntimo não deixam dúvidas de que ele tinha uma verdadeira vocação que será passo a passo sendo trabalhada por Deus.
Vicente de Paulo é ordenado padre aos 19 anos em 23 de setembro de 1600. Os primeiros anos de seu sacerdócio foram agitados, o jovem padre vive várias tentações. Nesse tempo sentiu tentado quanto a sua fé e, diante dessas crises iniciais do seu ministério sacerdotal, jamais vacilou ou deixou-se perder em caminhos desconhecidos. O padre Vicente de Paulo confiava na Divina Providência que o guiava em todas as situações. Somente em 1612 ele assume sua primeira paróquia em Clichy (França) e ali sente as alegrias do ministério sacerdotal: “Nem o Papa é tão feliz quanto um pároco no meio de um povo de coração tão bom” (SV br IX, 353).
O sacerdócio de São Vicente de Paulo era um sacerdócio missionário. Ele entende a sublimidade e a importância do sacerdócio quando diz: “O caráter sacramental dos padres é uma participação do sacerdócio do Filho de Deus que lhes deu o poder de sacrificar seu próprio corpo e de dá-lo como alimento, afim de que vivam eternamente os que dele comerem. É um caráter inteiramente divino, incomparável, um poder sobre o corpo de Jesus Cristo que os anjos admiram, e um poder de perdoar os pecados dos homens, que é para eles um grande motivo de admiração e reconhecimento. Haverá coisa maior e mais admirável?!” (SV br, XI, 7). Ao mesmo tempo que entendia o sacerdócio como algo divino, pois participa da missão de Jesus Cristo, padre Vicente também ponderava acerca das responsabilidades desse ministério e o quanto ainda estava longe da perfeição que esse Sacramento exigia: “Se eu tivesse sabido o que era o sacerdócio, quando tive a temeridade de entrar neste estado, como o soube mais tarde, teria preferido lavrar a terra […]” (SV br V, 275).
São Vicente não viveu seu sacerdócio para si, mas para os outros, sobretudo para os mais pobres. Os sacramentos que ministrou, os atendimentos que realizou e os sermões que pregou todos tinham como fim a Missão. E é na missão que o seu sacerdócio encontrava o pleno sentido. “Oh! meus Senhores, como um bom padre é uma grande coisa! O que não pode fazer um bom eclesiástico?! Que conversões não pode ele alcançar!” (SV br XI, 7). Para que os padres fossem verdadeiramente bons, Vicente de Paulo, se lança na difícil tarefa da formação do clero. É aqui que o santo da caridade vai ajudar a milhares de seminaristas e padres recém ordenados a nutrirem em seu coração o amor e o compromisso para com os mais pobres através de retiros e conferências. O padre Vicente irá revolucionar a formação do clero e os seminários de sua época.
São Vicente de Paulo vive o seu sacerdócio como uma missão. É tarefa daqueles que foram ordenados viver para Deus e para os mais pobres. O seu ministério foi marcado pela caridade. Não se via em padre Vicente o carreirismo eclesiástico ou o clericalismo que tanto prejudica a Igreja. São Vicente entendeu perfeitamente o que é ser padre: é ser missionário! “Ó Senhor, dai-nos o espírito do vosso sacerdócio, que tinham os apóstolos e os primeiros padres que os seguiram. Dai-nos o verdadeiro espírito deste sagrado caráter, que imprimistes em pobres pecadores, em pobres trabalhadores, em pessoas pobres daquele tempo, às quais, por vossa graça, comunicastes este grande e divino espírito.” (SV br XI, 139).
Pe. Allan Júnio Ferreira, CM
Assessor Espiritual do CNB