Os benefícios espirituais e econômicos advindos da agregação a Paris
A primeira Regra, editada em 1835 e impressa em 1836, já estabelecia que, para garantir que as novas Conferências fizessem parte da Sociedade de São Vicente de Paulo, seria necessária a obtenção de um diploma de reconhecimento. Assim, surgiu a “Carta de Agregação”, estabelecida para assegurar que a SSVP cresceria com base nos mesmos princípios, nos mesmos normativos e com as mesmas tradições.
A “Carta de Agregação” é, como está escrito na Regra, o sinal visível de união entre as Conferências e a Confederação Internacional. Uma Conferência só pode ser chamada de “Conferência de verdade” se possuir o referido documento. Se não a possuir, pode até ser uma Conferência, mas não está irmanada com os pilares da nossa Sociedade. Todo presidente de Conferência, em sintonia com o presidente do Conselho Particular, deve solicitar a agregação a Paris, tão logo a Conferência complete um ano de existência.
A Carta de Agregação não é apenas uma formalidade burocrática para atestar que uma unidade vicentina faz parte da nossa Sociedade. É muito mais do que isso. A Carta tem uma abordagem espiritual, pois ela encarna os princípios, as tradições e valores que nos unem e que nos distinguem de outros movimentos leigos da Igreja. A Carta possui 16 princípios fundamentais, básicos e universais, que devem ser relembrados e recitados todos os anos. A própria Regra sugere que, na data do aniversário da Conferência, a Carta seja lida e meditada, assim como a ata de fundação do grupo, para que todos estejam sempre conscientes do seu papel como confrade e consócia.
Após uma pesquisa feita nos bancos de dados do Conselho Geral, encontramos algumas informações que nos deixaram preocupados. Desde o ano 2000, 75% das agregações são oriundas de 11 países, e 25% das agregações provêm de todos os outros países juntos (144 territórios). No mesmo período, 39 países não apresentaram nenhum pedido sequer de “Carta de Agregação”, 17 países enviaram apenas um pedido e 16 países apresentaram entre duas e cinco solicitações. Em outras palavras, dos 155 territórios em que estamos estabelecidos, 72 países, isto é, a metade, não têm buscado as agregações, funcionando de maneira irregular.
Outro dado que obtivemos ao analisar os documentos é que esses 11 países acima citados, todos os anos, sem exceção, estão sempre a encaminhar pedidos de agregação, “religiosamente”. São eles: Índia, Brasil, Austrália, França, Canadá, República Democrática do Congo (RDC), Irlanda, Nigéria, Peru, Estados Unidos e Zâmbia. Parece coincidência, mas esses países formam parte do Comitê Executivo Internacional (CEI), e, portanto, compreendem de forma cristalina a importância das agregações, estimulando que suas Conferências estejam devidamente conectadas a Paris.
Por outro lado, pudemos perceber que os territórios que possuem um vínculo mais distante com o Conselho Geral, ou que quase não interagem com a Confederação, são aqueles em que o número de agregações é bem menor. Por isso, as viagens missionárias do Presidente-geral, dos Vice-presidentes Territoriais Internacionais (VPTIs) e dos Coordenadores de Zona tornaram-se prioritárias e estratégicas para se reverter essa tendência. Talvez essa seja uma das razões de termos conseguido agregar, durante a nossa gestão, 3.200 novas Conferências (foram visitadas 50 nações).
De todas as formas, os dados levantados impressionam e nos fazem refletir sobre a seguinte pergunta: será que os confrades e as consócias sabem exatamente o que representa a Carta de Agregação? Outra pergunta pertinente: será que os nossos dirigentes vicentinos, responsáveis em solicitar o vínculo a Paris conforme prevê a Regra, perderam o sentido original da Carta de Agregação?
Eu poderia listar, aqui, inúmeras razões para defender as Cartas de Agregação, mas mencionarei apenas duas. A primeira delas é espiritual: sem estar agregada, a Conferência não recebe os favores espirituais a ela associados, e os nossos confrades e consócias não podem usufruir das indulgências concedidas pela Santa Igreja. A segunda razão é econômica: uma Conferência não agregada deixa de se beneficiar financeiramente, tendo em vista que, para receber qualquer ajuda proveniente do Conselho Geral ou de outro Conselho Superior, a unidade vicentina deve estar devidamente registrada em Paris por meio da agregação.
Conferências fundadas há muitos anos, mas ainda sem a agregação a Paris, devem procurar imediatamente o presidente do Conselho Particular para regularizar essa situação. Conferências muito antigas, e que perderam suas Cartas, também podem solicitar a segunda via (duplicata), que será enviada pelo Conselho Geral. Recomendamos que, antes de se fundar novas Conferências, seja dada ênfase na reativação de Conferências inativas; assim, podemos aproveitar as Cartas de Agregação já emitidas e que estejam ainda válidas perante o Conselho Geral.
Um bom presidente de Conselho é aquele que não deixa nenhuma Conferência sem a devida agregação. É urgente e necessário que todos os membros da Sociedade de São Vicente de Paulo, especialmente os líderes, tenham a consciência sobre a importância da agregação a Paris. Se não agirmos assim, iremos contra o desejo dos nossos sete fundadores. Não há maior alegria na vida de uma Conferência que receber a Carta de Agregação. E para mim, não houve maior contentamento que colocar a assinatura nela.
Renato Lima
Presidente-geral entre 2016 e 2023