O Verdadeiro Sentido de Quaresma Para os Vicentinos: Um Caminho de Oração, Caridade e Missão

Com o início de Quaresma, a SSVP Brasil é chamada a divulgar sua espiritualidade, unindo-se ainda mais ao Cristo sofredor e aos Pobres que diariamente batem à porta da caridade vicentina. Nesta reflexão, o Padre Tito Marega, dos Religiosos de São Vicente de Paulo, nos ajuda a compreender como este tempo litúrgico pode iluminar e renovar a caminhada espiritual dos vicentinos.
A palavra “Quaresma” tem origem no latim Quadragésima, que significa “quarenta”, um número de profundo simbolismo bíblico. Foram quarenta dias e noites do dilúvio, quarenta anos de travessia no deserto em busca da Terra Prometida, quarenta dias de jejum e tentação de Jesus no deserto, quarenta dias entre a Páscoa e a Ascensão. Mais do que um número, a Quaresma representa um tempo de prova, de tentação, mas sobretudo, de aprofundamento da fé.
Para os vicentinos, a Quaresma é um convite a renovar a intimidade com Cristo. A oração é o primeiro passo desse caminho. Padre Tito registrou a simplicidade profunda do Santo Cura d’Ars, que ao ver um camponês em silêncio diante do Sacrário, perguntou-lhe: “O que você faz?”. E ele respondeu: “Eu olho para Ele e Ele olha para mim”. É este estar diante de Cristo, contemplando o seu rosto misericordioso, que nos formamos como discípulos e missões.
A Liturgia Eucarística, centro da vida cristã, é apresentada pelo Catecismo da Igreja como a oração por excelência. Por isso, o Padre Tito nos sugere uma prática concreta para este Quaresma: ler e meditar os textos litúrgicos de cada dia, mergulhando nas leituras, nos salmos e nas orações da Missa. Como ensinou Bento XVI, “a melhor catequese é uma liturgia consciente e bem celebrada”.
Mas a espiritualidade vicentina é ação e caridade, e Quaresma também é tempo de ajustar nossa rotina diária para dar espaço ao essencial. O jejum, além da privação alimentar, deve ser uma disciplina da mente e do coração, libertando-nos das escravidões modernas — o excesso de tela, as distrações vazias e o consumismo — para que possamos nos dedicar verdadeiramente ao encontro com Deus e com os pobres.
A Quaresma vicentina nos chama ainda à revisão das nossas práticas: como temos vivido nossas reuniões? Com que amor e zelo fazemos nossas visitas aos assistidos? É tempo de aprofundar nosso compromisso de fé e caridade. Quanto mais a nossa oração pelo verdadeiro, fruto de uma autêntica relação com Cristo, mais nosso coração será moldado pelas atitudes d’Ele, cheio de ternura e cuidado pelos pobres.
São Paulo já dizia: “Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro” (Fl 1,21). Na espiritualidade vicentina, viver é servir Cristo nos pobres, considerar o seu rosto nos que sofrem, e caminhar com eles na esperança.
O Espírito Santo nos conduz nesse caminho, reavivando em nós a vocação vicentina, inflamando o amor pela Conferência e o zelo pelas visitas semanais. É assim que a Quaresma deixa de ser apenas um tempo litúrgico e se torna um itinerário espiritual de conversão, caridade e missão.
Que esta oração da Igreja nos acompanha em toda Quaresma:
“Deus, através dos exercícios anuais do sacramento da Quaresma, concedei-nos progressos no conhecimento do Mistério de Cristo e corresponde-lhe por uma vida santa.” (Oração Coleta do 1º Domingo da Quaresma)