O Salmo 33 e a longevidade humana
No Salmo 33 da Bíblia Católica, Davi convida o fiel à confiança em Deus por causa da bondade divina, explicando que a recompensa da piedade e da vida honesta é a própria felicidade, que dura uma longa vida. Essa promessa da eternidade está contida no versículo 12, e é reforçada nos versos seguintes.
O Salmo 33 vale muito a pena ser meditado como leitura espiritual nas reuniões vicentinas. O texto deixa bem claro que os justos que louvam a Deus estão a buscar vários objetivos, dentre eles a longevidade. Deus vai anunciar uma série de promessas a quem perseguir uma vida longeva com o foco da caridade, do bem comum e da empatia. O Senhor vai dizer que quem pratica o bem é protegido do mal. Ele também vai citar que as pessoas devem buscar a paz, e empenhar-se para mantê-la. O Senhor vai garantir que ouve o clamor dos justos e livra-os de todas as tribulações, pois os ímpios serão condenados e os justos serão salvos.
No versículo 12, Davi faz a pergunta retórica: “Quem é o homem que ama a vida e quer longevidade para ver o bem?”. Na verdade, esse texto poderia ser também analisado da seguinte maneira: “Somente o homem – e a mulher – que ama a Deus tem uma vida longeva, para fazer o bem”. Aqui está a proposição do salmista: quem ama a vida, deseja viver mais e melhor, fazendo o bem. Essa longevidade não significa apenas “viver e desfrutar a vida”, mas, sobretudo, viver uma vida eterna na companhia de um Deus amoroso e bondoso, praticando o bem.
Vivemos um tempo em que muitos desejam a “vida eterna” aqui na Terra, buscando tratamentos criogênicos, medicamentos, produtos farmacêuticos e vacinas que aumentem a qualidade de vida, prolongando o tempo de nossa existência. Muitos querem ser imortais e, na busca incansável da fonte da juventude, evidenciam suas características mais deploráveis: o egoísmo, o individualismo, o isolacionismo e o materialismo. Há inclusive uma série, intitulada “Ad Vitam” (produção francesa), que está chamando a atenção por discutir exatamente a imortalidade humana.
Como podemos lamentavelmente perceber, essa longevidade não é para a busca do bem nem para a prática da caridade, e sim um capricho humano em querer viver mais para experimentar os prazeres da carne. Diante do conjunto de preceitos indicados por Davi, podemos encontrar o segredo da longevidade, cuja base está no temor a Deus. As pessoas têm feito muitos esforços em busca da longevidade, mas a longevidade só tem razão de ser se estiver ao lado da felicidade.
A longevidade e a felicidade só podem ser conquistadas se tivermos a Deus como o centro de nossa vida e de nossos pensamentos. Se nós tivermos o nosso “eu” como o centro de tudo, logo haverá desarmonia nos atos e atitudes, não estaremos em paz com o mundo, nem com as pessoas próximas ou distantes, e não estaremos em paz nem conosco mesmos. O resultado será degeneração e morte, ao invés da tão sonhada “vida prolongada”.
Recomendo a leitura pausada de todo o Salmo 33, e deixo duas perguntas para debate da Conferência: “Muita gente procura as vacinas para se proteger das enfermidades, prolongando a vida. Mas será que essas pessoas buscam a longevidade para dedicar o seu tempo a Deus e aos pobres? O que dizer, também, de pessoas que defendem a eutanásia, as drogas e o aborto, que são demonstrações cabais de interrupção da vida, contravalores que vão na direção oposta à longevidade?”.
Renato Lima de Oliveira,
16º Presidente-geral da SSVP