O Papa Francisco recorda o cardeal Hummes: pediu-me que não me esquecesse dos pobres
O Papa Francisco enviou um telegrama de pesar ao arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, pelo falecimento do cardeal Cláudio Hummes, na última segunda-feira (04/07).
O Papa recebeu “com profundo pesar a notícia do falecimento do eminentíssimo cardeal Cláudio Hummes“, antecessor de Dom Odilo “na condução pastoral da dileta Arquidiocese de São Paulo”.
“Quero assegurar-lhe dos sufrágios que elevo ao altíssimo pelo eterno descanso deste querido irmão. Minhas preces são também de gratidão a Deus pelos longos anos de seu dedicado e zeloso serviço, sempre pautado pelos valores evangélicos, à Santa Mãe Igreja nos diversos encargos pastorais que lhe foram confiados tanto no Brasil quanto na Cúria Romana, e por seu empenho em anos recentes pela Igreja que caminha na Amazônia”, ressalta o Papa no telegrama.
“Trago sempre vivas na memória as palavras que dom Cláudio me disse no dia 13 de março de 2013, pedindo-me que não me esquecesse dos pobres”, escreve Francisco, enviando a bênção apostólica ao arcebispo de São Paulo e a todos os que se unem em oração para as exéquias do cardeal Hummes, como penhor de consolação e de esperança na vida eterna.
O cardeal era amigo pessoal do Papa Francisco
Falece aos 87 anos o cardeal Cláudio Hummes
O cardeal franciscano faleceu nesta segunda-feira, dia 04/07/2022. Seu longo ministério foi dedicado, em particular, ao acompanhamento dos povos indígenas, do qual trouxe a voz ao Sínodo para a Região Pan-Amazônica em 2019.
No seu brasão episcopal lê-se “Omnes vos fratres” (Vós sois todos irmãos), ecoando a expressão de São Francisco de Assis, “Fratelli tutti”, que inspirou também a última encíclica do Papa. Outro sinal evidente daquela unidade de propósitos e pensamento que o ligava ao outro Francisco, o Pontífice reinante, cujo nome foi fruto de sua sugestão.
“Dom Cláudio”, como era chamado carinhosamente por quem conhecia o cardeal Cláudio Hummes. Ele tinha 87 anos e um grande coração que pulsava -e não há retórica em dizer isso – pelos “pobres”. Os povos indígenas da Amazônia, como os missionários consagrados e leigos; os sedentos e famintos do “Sul do mundo”, como os operários mal pagos ou as vítimas das mudanças climáticas.
Ele os tinha em mente o tempo todo, mesmo nas últimas votações do Conclave de 2013 que elegeu o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mário Bergoglio. Ao amigo argentino, sentado ao seu lado, quando alcançou o número de votos necessários para ser eleito, sussurrou-lhe ao ouvido: “Não se esqueça dos pobres”. Da intuição surgiu outra intuição do Papa recém-eleito para a escolha do nome.
Tinha ao meu lado o Cardeal Cláudio Hummes, o arcebispo emérito de São Paulo e também prefeito emérito da Congregação para o Clero: um grande amigo, um grande amigo! Quando o caso começava a tornar-se um pouco «perigoso», ele animava-me. E quando os votos atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque foi eleito o Papa. Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: «Não te esqueças dos pobres!» E aquela palavra gravou-se-me na cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis.
Nascido em Montenegro, Rio Grande do Sul, de família de origem alemã, Auri Afonso – este é o seu nome de Batismo – assumiu o nome religioso Cláudio ao ingressar na Ordem dos Frades Menores em 1956. Em Roma estudou filosofia e especializou-se em ecumenismo no Bossey Institute em Genebra; foi professor, reitor, teólogo, bispo. Passou vinte e um anos, a partir de 1975, em Santo André, onde se destacou pela defesa dos trabalhadores, por apoiar os sindicatos e participar de greves como bispo encarregado da Pastoral Operária em todo o Brasil. Em 1996 foi nomeado arcebispo de Fortaleza, no Ceará. Durante seus dois anos de ministério foi responsável pela família e cultura na Conferência Episcopal Brasileira em Brasília. Foi, portanto, um dos arquitetos do II Encontro Mundial das Famílias com o Papa, realizado no Rio de Janeiro em 1997.
Em 15 de abril de 1998, João Paulo II o quis como arcebispo metropolitano de São Paulo, onde deu impulso à pastoral vocacional, à formação dos sacerdotes e à evangelização da cidade. O papel desempenhado no campo da comunicação de massa também foi importante, porque a Igreja – afirmou – tinha que falar com a cidade, aproximando os católicos e levando o Evangelho às famílias.
Wojtyla também o criou cardeal em 21 de fevereiro de 2001. Em seguida, participou do Conclave em abril de 2005 que elegeu Joseph Ratzinger. E o próprio Bento XVI o nomeou prefeito da Congregação para o Clero em 2006, em sucessão ao cardeal Darío Castrillón Hoyos. Em maio de 2007 participou da V Conferência Episcopal Latino-Americana, mais conhecida como Conferência de Aparecida, cujo relator do documento final foi o cardeal Bergoglio.
Em 2010, Hummes renunciou ao cargo de prefeito e presidente do Conselho Internacional de Catequese, órgão vinculado à Congregação, ao atingir o limite de idade. Em 29 de junho de 2020 foi eleito presidente da Conferência Eclesial da Amazônia, instituída como uma “ferramenta eficaz” para implementar muitas das propostas que surgiram do Sínodo e se tornar “uma ponte que anima outras redes e iniciativas. ambientais a nível continental e internacional”. O que Dom Cláudio tentou fazer até os últimos dias de sua vida terrena.