Nenhuma Obra de Caridade é estranha à SSVP
O título desse artigo traz à reflexão dos vicentinos muito mais que simplesmente uma discussão sobre esse ou aquele tipo de ação em favor dos carentes. Pensando na missão a que se propôs a SSVP desde a sua fundação há 187 anos, o que eu desejo abordar aqui é a atualidade e a efetividade da nossa ação em favor daqueles que mais precisam. Estamos abertos aos novos desafios que representam as novas formas de pobreza? Estamos prontos para nos reinventar e entregar aos nossos irmãos Pobres aquilo que eles realmente necessitam? Nossa ação tem resgatado a dignidade daqueles que ajudamos ou perpetuado sua condição de pobreza? Poderíamos fazer mais?
Durante seus primeiros anos de existência a SSVP teve como obra quase exclusiva a visita aos pobres em seu domicílio. Essa obra segue sendo a principal e mais importante ação das conferências vicentinas em favor dos Pobres. Porém, distorções decorrentes da falta de formação de alguns vicentinos levam muitas conferências a se fixarem única e exclusivamente na missão de ajuda alimentar através da entrega de cestas básicas. Esse é um problema que tem desafiado a SSVP continuamente: é preciso ir além da cesta básica, observar que a promoção integral das famílias assistidas passa necessariamente por investir também na educação e no trabalho como ferramentas para quebrar o ciclo da pobreza.
Com o passar do tempo, o exercício piedoso da caridade junto aos mais Pobres levou as conferências vicentinas a se envolverem com outros tipos de obras de benemerência. Muitos desses serviços já não são mais oferecidos e outros têm sido propostos de acordo com a necessidade. O envolvimento dos vicentinos com outros tipos de obras de caridade, ao lado da original obra da visita domiciliar, obedece ao espírito da Sociedade consagrada na Regra Internacional: “1.3 – Nenhuma obra de caridade é estranha à Sociedade. A sua ação abrange qualquer forma de ajuda, tendo em vista aliviar o sofrimento ou a miséria e promover a integridade do homem em todas as suas dimensões”.
Mas é no item 1.6 da Regra Internacional que encontramos o chamado a abrir os nossos horizontes e ampliar o raio de ação do nosso serviço caritativo: “Fiel ao espírito de seus fundadores, a Sociedade esforça-se por se renovar sem cessar e por se adaptar às condições de mudanças dos tempos. Ela quer estar sempre aberta às mutações da humanidade e às novas formas de pobreza que se possa identificar o pressentir. Dá prioridade aos mais desfavorecidos e especialmente aos rejeitados pela sociedade”. Resumindo, a proposição de novas obras e serviços em benefício dos mais Pobres é um imperativo da evolução do mundo e do surgimento de novas misérias que afligem os nossos irmãos e para as quais devemos voltar a nossa atenção, buscando descobrir a raiz desses males para então propor as soluções.
Graças a Deus temos visto nos últimos tempos iniciativas que trazem muitas esperanças e demonstram que a Sociedade anda se renovando em muitos lugares, abrindo novas frentes de ação caritativa e missionária. Podemos citar por exemplo, as iniciativas de “Banho Solidário”, que atendem à população em situação de rua nas cidades de Juiz de Fora/MG e São Paulo/SP. Outro exemplo são os projetos sociais, que podem ser desenvolvidos com criatividade e incentivo às famílias assistidas para que assumam o protagonismo de sua vida. O Conselho Nacional do Brasil oferece anualmente linhas de financiamento que podem ser acessadas pelas conferências para libertar os nossos irmãos assistidos da dependência através do trabalho.
Também no plano internacional a SSVP oferece mecanismos para ampliar o raio de ação das obras de caridade vicentinas. Através da CIAD, o departamento de projetos do Conselho Geral Internacional (CGI), são oferecidas linhas de financiamento para projetos de câmbio sistêmico, ajuda emergencial em situações de catástrofes ambientais e econômicas e reforço da ação vicentina através do treinamento dos nossos voluntários e da melhoria das nossas ferramentas de trabalho.
Existem, portanto, inúmeras necessidades e novas formas de pobreza a serem atendidas. Existem também alternativas de financiamento para novas ações de caridade. O desafio do serviço aos pobres exige a cada dia, que estejamos mais preparados para identificar e propor soluções para combater as novas misérias que afligem os nossos irmãos. Para tanto é preciso abertura às novas ideias, criatividade e uma boa dose de “ousadia vicentina”. Preservando o nosso modo tradicional de servir aos mais pobres, que fazemos através do contato pessoa a pessoa, podemos propor e implementar novas obras de caridade. Você e sua conferência estão dispostos a pensar “fora da caixinha”?
Autor: Cfd. Júlio César Marques de Lima – Belo Horizonte/MG
Orientador da CCA São Cirilo Alexandrino. Vice-Presidente Territorial do CGI para a América do Sul