Conheça a história do Padre Tito
O sacerdócio é uma escolha para a vida! Hoje celebramos o Dia do Sacerdote e a SSVP Brasil conversou com o padre Tito Marega, que veio da Itália para o Brasil, buscando refúgio e encontro na religião, uma forma de construir sua vida.
Tito relembra que saiu da Itália, por volta dos 6 anos, porque seu pai estava cansado das guerras: “ele pegou as guerras de 1914, 1939 e 1945. Um ambiente horrível da ascensão do nazismo e do marxismo entre as duas guerras”, relembra o religioso.
O primeiro contato forte de Tito com a vida católica começou durante a sua viagem de navio da Itália para o Brasil, que durou 15 dias, quando três feiras e um capelão, responsável pela capela da embarcação, anunciaram aos passageiros que eles iriam oferecer catequese àqueles que ainda não fossem catequizados. E ele se candidatou! “O que me marcou nessa viagem foi o clima contemplativo, era a catequese, estava totalmente voltado a para isso, para a religião, para a comunhão. Foi um retiro aqueles 15 dias. Uma experiência com Deus”, conta o sacerdote.
Tito afirma que a viagem para o Brasil foi um divisor de águas na sua vida, que o amor por Deus foi desperto durante aquele trajeto, o que contribuiu para a sua decisão que viria anos depois, de dizer sim ao sacerdócio. “Eu já era coroinha lá na Itália e quando cheguei em Marília/SP minha família ficou em uma paróquia de padres italianos. Então me juntei aos coroinhas logo que cheguei, ia à missa todos os domingos com a minha avó. Ela tem um papel importante nessa trajetória”, relembra.
A senhora Maria Madalena, chamada pelos familiares de “Nhanha”, era uma ‘sarjentona’, nas palavras de padre Tito. “Ela colocava a gente na linha, toda a noite a gente rezava o terço com ela em latim. Ela sabia os mistérios, tudo de cor, sem livro nenhum. Ela foi muito importante nessa formação católica, ela manteve uma fidelidade à missa dominical”, conta Tito.
Vocação
O religioso conta que descobriu a vocação para ser padre aos 10 anos. “Foi em 1952, em uma escola em Marília, lembro como se fosse hoje, durante o horário da saída tinha um menino que devia sofrer bullying e eu ouvi uma voz, vindo lá de fora da escola falando ‘esse menino (o que sofria bullying) vai ser padre’, e nessa hora algo se manifestou em mim e eu pensei: ‘não, eu vou ser padre!’. É algo que nunca tinha pensado antes!”.
Tito foi ordenado padre aos 23 anos, após anos de estudo e preparo para sua verdadeira vocação. “Deus plantou em mim, ele tomou posse, sempre fui uma presença habitual, tudo era em função disso, sem nada de extraordinário, para mim esse era o normal da vida”, revela.
Experiências
Em 1962, aos 18 anos, foi convidado pelo bispo para ir para o Canadá. Na época, alguns padres canadenses vieram para o país auxiliar algumas arquidiocese e Tito conta que o bispo recebeu a proposta de enviar dois seminaristas para fazer teologia fora do país. “Quando eu começo a viver a minha vida, percebo que a gente é carregado no colo, a vida é só seguir uma voz interior. Isso é fundamental a gente entender e isso eu segui sempre. Foi uma experiência única o seminário no Canadá!”, relembra Tito.
Nessa época, Tito relembra de outro ponto marcante na sua trajetória: o Concílio Vaticano II, Conferência realizada entre 1962/65. O Concílio mudou o rumo da Igreja Católica e trouxe diversas mudanças nas questões teológicas e hierárquicas. Uma das principais mudanças do Concílio foi a liberação das missas para serem rezadas na língua de cada país e não apenas em latim.
“Tudo estava em ebulição, me lembro como se fosse hoje que o professor saiu batendo a porta, porque eles vinham com aqueles cadernos amarelados, ensebado, em latim, e a gente lia tudo e questionava”.
Retorno
“Durante o Concílio foi um reboliço muito grande dentro de mim e a missão com os Pobres foi o que marcou dentro de mim definitivamente. Foi um movimento muito forte no Concílio”, conta Tito.
Esse foi um dos temas que mais despertou a curiosidade do padre durante o estudo de teologia no Canadá e, com as novas orientações do Concílio, Tito saiu da Arquidiocese e decidiu que isso fazia parte da sua vocação: atender os mais pobres e necessitados. “Quando foi chegando ao final da minha formação em teologia foi ficando muito duro, eu via um futuro lindo e sabia que eu tinha vocação para viver em fraternidade em meio aos Pobres. Quase dei um passo de não voltar para o Brasil e já entrar para os grupos descendentes de Jean de Foucault, porque nasceu uma congregação dele que era radical esse estar com os Pobres. Eu fui muito atraído e me alimentei muito disso naquele período”, relembra Tito.
O padre cogitou seguir os “Irmãozinhos de Jesus de Carlos de Foucauld”, rodando o mundo, oferecendo ajuda aos que mais precisavam. Contudo, seu orientador espiritual na época disse que a ideia ainda não estava muito sólida, para ele retornar ao Brasil e amadurecer a ideia e, apesar da organização seguir as metodologias em que acreditava, Tito considerou o que foi dito pelo seu guia e pensou no rompimento com a sua família que isso resultaria.
Ao voltar para o Brasil, padre Tito diz que sofreu um choque de realidade, comparado a sua vida no exterior. “Aqui ainda estava do mesmo jeito, estava começando a efervescer o CNBB. Mas, em junho de 1966 eu fui ordenado pelo bispo em Marília e, logo em seguida, fui nomeado orientador espiritual do seminário em Marília”, recorda o padre.
Contudo, o cargo não durou muito tempo. No ano seguinte, devido às orientações do Padre Tito aos seminaristas seguindo o que havia experienciado no exterior, o bispo achou prudente transferi-lo para Tupã, outra cidade do interior de São Paulo. “Fiquei em Tupã cinco anos e meio”, pontua o padre.
Sociedade de São Vicente de Paulo
“Quando eu fiz 30 anos, em outubro de 1972, o povo festejou o meu aniversário o mês inteiro. Mal sabiam eles que eu ia levantar o acampamento e ir embora da cidade”, conta o padre. Nessa época, a ideia de ajudar ao próximo estava mais madura e ele já não se via mais conectado a nenhuma congregação. Porém, o cenário religioso no Brasil era bem caótico devido às mudanças do Concílio e Tito tinha um embate pessoal para resolver.
“Em uma noite, voltando para a casa em Marília, brotou em mim que a única coisa que importava eram as pessoas. Eu estava muito angustiado com o meu futuro e ali, andando na praça, em contato com a natureza, brotou dentro de mim essa certeza. Eu sabia que não tinha crise em relação a ser padre, mas sim na forma”. Nesse momento fervilhavam as comunidades eclesiásticas de base e algo que auxiliou Tito nessa trajetória foram as reuniões de padres que ocorriam para refletir, pensar e estudar.
“Eu era muito amigo dos padres do Seminário de São Vicente, mas não havia recebido o chamado para entrar, então me veio o questionamento ‘por que você não pede para entrar, já que todos são tão amigos’”, relembra o religioso.
Por fim, Tito decidiu por seguir essa vocação, deixar a diocese e seguir os passos dos irmãos do Seminário de São Vicente. Levou um tempo até que esse desejo se concretizasse e até a sua família chegou a cogitar a possibilidade dele estar errado. Através de familiares, ficou sabendo que seu próprio pai tinha medo dele ser infeliz na sua escolha, mesmo nunca deixando de apoiá-lo.
Atualmente, Padre Tito atua em diversas ações com os vicentinos, realizando ações e projetos com jovens e com os Pobres. “O amor de Deus se manifestou para mim sempre nos momentos de contemplação. No navio, foi na imensidão do mar; em Marília, foi na praça. O sentimento e a vocação, são coisas que segui no sentido de serem o grande amor de Deus. Isso se manifestou em mim em todos os meus 80 anos de vida”, finaliza o sacerdote, que ao ser questionado se em algum momento se arrependeu de sua escolha, olhou para a repórter, sorriu um riso fácil e apenas acenou a cabeça negativamente e a abraçou.