Como encontrar Cristo?
Diariamente, na caminhada em busca de Cristo, nos deparamos com sua imagem mutilada pela fome, pela miséria, pela falta de saúde e de educação. Esta imagem do Cristo sofredor chama a atenção de todos que ficam admirados por verem tanto sofrimento. Nossos irmãos que estão nas ruas da cidade grande, nos barracos das vilas, embaixo de lonas nas ocupações são como cadáveres destroçados, sem rosto, sem voz, sem vez.
Para aqueles que estão abandonados nas ruas as tardes quando a cidade volta para casa, são tardes de sofrimento para Cristo. A grande agitação diária, o vai e vem desordenado das pessoas traz algum alento para aqueles que lá estão, mas assim que a cidade se esvazia nossos Cristos das ruas se sentem totalmente abandonados e, uma vez sozinhos, é como se estivessem sepultados na escuridão da noite.
“Muitos dos que voltam para casa são também como Cristos, mutilados no espírito que julgam esconder e dissimular, mas que atraiçoa e põe a descoberto as misérias que os atingem. O corpo, papel sujo e velho, se torna incapaz de embrulhar o espírito”.
Quantas vezes nos encontramos a sós com o Cristo na pessoa do pobre que visitamos, porém nossos afazeres diários, nossa pressa não nos permitem contemplá-Lo, ouvi-Lo, aproveitar sua companhia. Para nós ele continua um Cristo anônimo. “Um Cristo fantasma”. Por que nossa pressa não nos deixa reparar em sua fisionomia, não nos deixa aproveitar da sua companhia.
Estamos vivendo a Campanha da Fraternidade cujo lema é “Somos todos irmãos” e quantas vezes pensamos no Cristo que padeceu e sofreu na cruz, ou nos indignamos com alguém que quebra uma imagem dele ou de Nossa Senhora e não temos a mesma indignação com alguém que pratica violência com uma imagem viva deles na pessoa do irmão. Quantas vezes nos esquecemos que nossos irmãos são Cristos a quem prejudicamos, traímos, armamos ciladas, odiamos, crucificamos.
A imagem de Cristo mutilada pela sua paixão nos lembra tantos irmãos que são ignorados, partidos, esmagados, doentes, oprimidos, sem trabalho, sem teto, sem honra, sem dignidade.
É muito doloroso saber que muitos de nós aproveitamos a Semana Santa para nos entregarmos à devoção ao Cristo imagem e nos esquecemos dos irmãos – Cristos feios, sujos, doentes, desnutridos, famintos, sofridos dos casebres que visitamos.
“Há muitos que tranquilizam a consciência beijando o Cristo e roubam o pequeno Cristo de carne, seu irmão”.
Como encontrar Cristo hoje? Ele está nos irmãos e irmãs explorados, mutilados, feridos e ofendidos por um sistema que oprime e mata. “O mais triste de tudo é que nós que nos colocamos como defensores dos mais fracos rendemos homenagens e apertamos a mão de quem mutila física e moralmente os Cristos vivos que são nossos irmãos”.
Que o Coração de Jesus nos dê forças para vivermos mais intensamente a Campanha da Fraternidade e enxergar de fato que somos todos irmãos.
Autor: Luiz Gregório da Silva (Coordenador do Departamento de Normatização e Orientação do Conselho Metropolitano de Belo Horizonte)
Artigo publicado na Revista Vicentina Adoremos, edição 1029, ano 104.
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