Assessor Espiritual publica reflexão sobre o Espírito Santo e a atuação dos vicentinos
A Terceira Pessoa da Trindade figura de forma proeminente na vida e no ensinamento de São Vicente de Paulo. Isto chama atenção, dado que a teologia da época não se caracterizava por muita devoção ao Espírito Santo. Nos escritos de Vincente de Paulo encontramos 77 citações ligadas ao Espírito Santo. Isto mostra a sua forte devoção a Ele, bem como a sua intenção de inculcar este amor nos que o rodeavam.
Neste contexto do trabalho da SSVP para os pobres do mundo, notamos que a São Vicente gostava de contemplar o Espírito Santo como causa de união em comunidades e grupos:
“Que Deus vos una a todos com muita proximidade e com um laço indissolúvel de caridade, para que por esta amizade mútua sejam reconhecidos como verdadeiros filhos de Nosso Senhor, a cujo amor desejais atrair outros pelo vosso exemplo e pelas vossas palavras! Peço ao Espírito Santo, que é a união do Pai e do Filho, que vos conceda esta graça”.1
O Espírito Santo age nos corações para os acender ao amor; ele é a fonte da unidade. É isto que ele diz a um superior: “Que o Espírito Santo, que vos reuniu, aperfeiçoe a vossa união e perpetue em vós todos os frutos do vosso trabalho, dignos de uma recompensa eterna”.2
Com base nestas reflexões, vamos olhar mais profundamente para o tema da unidade entre os membros da SSVP que acreditam na obra do Espírito Santo. Trata-se de um tema que nos é tão fortemente proposto nas leituras desta Solenidade. A “unidade do Espírito” é descrita no Novo Testamento como uma comunhão de coração e vida, de culto, de bens. Implica, além disso, não fechar-se a si próprio, mas estar em comunhão com todo o Povo de Deus.
A unidade da Igreja está intimamente ligada à efusão do Espírito, já que o Pentecostes é apresentado como o reverso da confusão de línguas na torre de Babel. Do mesmo modo, o Espírito aparece fertilizando a única Igreja com uma variedade de carismas. É o modelo de uma diversidade harmonizada pelo Espírito. O amor é a obra suprema do Espírito na Igreja, a qual são dirigidos os variados carismas que ele semeia nos indivíduos. A pluralidade dá uma diversidade que não precisa de ser um obstáculo à unidade, mas, pelo contrário, confere-lhe o carácter de comunhão.
O Espírito Santo, que é o amor que une o Pai e o Filho, é aquele que realiza a unidade entre nós. Ele é quem derrama amor nos nossos corações para que possamos amar verdadeiramente, construir pontes sobre os rios que nos separam, destruir as barreiras que nos dividem. Ele é quem nos dá a alegria de lutarmos juntos para alcançar algo de bom ou a maravilhosa experiência de celebrar uma realização compartilhada.
Nesta Solenidade de Pentecostes queremos recordar que quando estamos unidos com um irmão ou irmã através do amor, estamos a deixar-nos guiar pelo Espírito Santo, o modelo de amor unitivo. É maravilhoso admirar como a vida do Espírito pode ser tornada presente nas relações humanas. Pois cada gesto de amor generoso é um reflexo desse Amor infinito que une o Pai e o Filho. É por isso que podemos admirar os reflexos do Espírito Santo num gesto de serviço humilde e generoso, numa atitude que procura fazer o outro feliz, em cada inclinação para outro que tende a “fazer-nos um” com ele.
O ES é a “ligação” entre os seres humanos. O trabalho do Espírito no coração dos homens tem necessariamente um dinamismo comunitário. É por isso que a função do ES é nos colocar em movimento para irmos ao outro.
Uma forma concreta de o fazer é através do diálogo. Uma forma eminente de refletir o impulso amoroso do Espírito é inspirando o diálogo sincero daquele que aceita que pode aprender algo com o outro. Trata-se de reconhecer que existem muitas formas de aceder à verdade. Assim, quando dialogamos, reconhecemos que estamos com pessoas que procuram a verdade de outra perspectiva. A nossa tarefa não é levá-los a todo o custo a pensar como nós pensamos, mas sim a participar numa conversa que produz um enriquecimento mútuo. Há sempre uma parte do bem e da verdade naqueles que pensam de forma diferente. Ser capaz de compreender a perspectiva do outro não é fraqueza, mas uma graça diante à verdade. Esta é a chave para a sinodalidade que a Igreja procura. E também a SSVP como parte da Igreja.
Nesta solenidade, vamos pedir ao ES que conceda unidade, diálogo e amor serviçal a querida SSVP. Recorramos sempre ao ES que é o nosso Defensor (o que não é pouca coisa) e o nosso Professor Interno.
1 E. S. V, 62
2 S. S. VII, 116
Perguntas:
1. Sou devoto ao ES? E como posso ser ainda mais?
2. Sou uma pessoa de diálogo? Como são as minhas comunicações com os outros?
3. Busco a unidade na SSVP?
4. Espalho a devoção ao ES entre os pobres?
Andrés Motto, CM.