As Virtudes Vicentinas e o Seguimento de Cristo Evangelizador dos Pobres
“Deus pode até estar no alto, mas é olhando para baixo que se encontra os Pobres e, portanto, Deus”
O artigo escrito pelo Padre Emanoel Bedê, da Congregação da Missão (CM), faz parte de uma série de artigos falando sobre as Virtudes Vicentinas. O autor convida a uma imersão na espiritualidade vicentina, destacando a importância de seguir o exemplo de Cristo como evangelizador dos Pobres.
Venha conferir!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Ainda hoje se discute sobre a essência da espiritualidade vicentina, sobre seus mais diversos aspectos e matizes. Sem dúvidas, nela podem ser encontradas algumas nuances bem peculiares, advindas das influências exercidas em São Vicente, de seus diretores espirituais: São Francisco de Sales, Cardeal P. de Bérulle e André Duval.
Podemos encontrar na espiritualidade vicentina várias tônicas, como o ‘cumprimento da vontade de Deus’, a ‘docilidade à Providência’, a ‘união entre ação e oração’, a ‘vivência da humildade e a simplicidade’ e, de forma mais enfática, ‘o serviço aos Pobres’, tão caro ao santo. Tudo isso nos conduz ao encontro do retrato do Cristo pregado por São Vicente. Para ele, Cristo é o evangelizador dos Pobres, que fugia das cidades para ir ao encontro do pobre povo dos campos. Este é, de fato, o Cristo que se encontra no coração da espiritualidade vicentina.
Deixou-me preocupado quando uma vicentina, de vivência espiritual profunda e comprometimento incontestável com os Pobres, partilhou comigo que “alguns jovens da SSVP não apreciavam o conteúdo das falas do assessor espiritual do CNB”.
Fiquei preocupado, porque isso revela que a muitos faltam ainda a vivência e o conhecimento profundo da espiritualidade vicentina (leva-se tempo para ser um genuíno vicentino!); quando ainda não se tem a convicção de que o Cristo da espiritualidade vicentina é o Cristo Evangelizador dos Pobres, quando nosso conhecimento a respeito dessas máximas aparenta ser semelhante ao leve verniz que cobre a superfície da madeira, somos facilmente fascinados por algum tipo de proposta espiritualizada e esteticamente atraente, na maioria das vezes de qualidade duvidosa, ainda mais em tempos de muita cura e pouca libertação.
Não restam dúvidas de que São Vicente e Bem-aventurado Frederico Ozanam não se converteram ao serviço dos Pobres olhando para cima ou fechando os olhos à procura de algum êxtase espiritual, refugiando-se no sentimentalismo vazio e estéril de quem se preocupa com a própria salvação, mas visitando os Pobres, participando de suas dores e de sua condição, “virando a medalha para ver Cristo neles”.
Assim sendo, nos propomos refletir um pouco mais sobre as cinco virtudes vicentinas como caminho de cura e libertação para todos nós, vicentinos, curarmos das enfermidades espirituais e existenciais e nos libertarmos das tentações dos muitos condicionamentos que nos levam a acostumarmos com a mediocridade de espírito pequeno.
Por isso, antes de mais nada, é preciso tomar consciência de que o Cristo que São Vicente apresenta a seus seguidores é o “Evangelizador dos Pobres”. Somos chamados a entrar no movimento de Jesus com as mesmas palavras com que Ele anunciou seu projeto apostólico: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me para proclamar a remissão aos oprimidos e aos cegos, a recuperação da vista; para restituir a liberdade aos prisioneiros e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc, 4,18).
A espiritualidade vicentina brota da contemplação deste Cristo, por isso, é necessário revestir-nos de seu espírito; se expressa e concretiza no amor compassivo e efetivo pelos Pobres, na docilidade à Providência e na vivência das virtudes missionárias de simplicidade, humildade, mansidão, mortificação e zelo. Para São Vicente, Cristo se caracteriza por essas cinco virtudes missionárias, como se através delas pudéssemos pintar o retrato perfeito de Cristo como missionário dos Pobres, que se identifica e mora com eles.
Por conseguinte, o primeiro desafio lançado a nós é, portanto, o de apropriar-nos desse conteúdo encantador e essencial na imitação de Nosso Senhor. E como podemos fazer isso? Eis algumas dicas: no contato pessoal com os Pobres através das visitas, aspecto fundamental e indenitário da SSVP, sem o qual a Associação perderia seu fim; matricular-se na escola dos Pobres: trabalhar com eles na perspectiva da colaboração de quem tem a consciência de que o Pobre não é objeto de nossa caridade, mas sujeito de sua libertação; vivência da espiritualidade encarnada, pois Cristo vive na pessoa dos Pobres e é no contato com eles que o encontraremos, pois, segundo São Vicente, “ao servir os Pobres, servir a Jesus Cristo”.