A oração do Papa pelas vítimas da pandemia em Manaus

Ao saudar os fiéis de língua portuguesa conectados para a Audiência Geral, o Papa Francisco dirigiu sua oração às vítimas do corona vírus.

“Nestes dias a minha oração é por quantos sofrem com a pandemia, de modo especial em Manaus, no norte do Brasil. Que o Pai das Misericórdias lhes sustente neste momento difícil. Lhes abençoo de coração!”

Esta foi a saudação que o Papa Francisco dirigiu aos fiéis de língua portuguesa na Audiência Geral desta quarta-feira.

Não é a primeira vez que o Pontífice manifesta sua preocupação com a capital do Amazonas. Na primeira onda da pandemia, Francisco ligou para o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, para manifestar a sua solidariedade e proximidade às vítimas do novo coronavírus. Era o dia 25 de abril de 2020.

Agora, Manaus volta a viver uma tragédia, com a morte de pacientes nos hospitais por asfixia devido à falta de oxigênio.

Dom Leonardo gravou um vídeo fazendo um apelo por ajudas: “Coloquemos a serviço de todos a nossa humanidade melhor, e coloquemos também a serviço de todos as nossas forças espirituais”. 

O arcebispo fez um pedido para “deixar de lado as agressões, os negacionismos, deixar de lado a política que divide, que corrompe, deixar de lado os lucros acima da pandemia”.

Em entrevista ao Vatican News, o missionário espanhol Padre Luis Miguel Modino declarou se vive uma realidade de morte” no Estado, relatando também as ajudas oferecidas pela Igreja. Dois dias atrás, a Covid-19 fez mais uma vítima entre o clero de Manaus, com a morte do sacerdote palotino Celestino Ceretta, aos 79 anos.

Fonte: Vaticano News

PAPA FRANCISCO APELA À RESPONSABILIDADE DE CADA UM NA PANDEMIA: “EVITAR TENTAÇÃO DO HEDONISMO”

Logo após a oração mariana do Angelus, como de costume, o Papa usa o espaço para convocar os fiéis a temas sensíveis e acontecimentos mundiais, por exemplo. Neste domingo, 3 de janeiro, chuvoso na Cidade do Vaticano, mas resguardado na biblioteca do Palácio Apostólico devido às restrições da pandemia, Francisco fez um chamamento à responsabilidade individual para conter a disseminação da Covid-19.

Ao renovar os “melhores votos este ano que acaba de começar”, o Pontífice procurou ajudar a colocar a mão na consciência de cada cristão que vive este período nebuloso do coronavírus:

“Sabemos que as coisas vão melhorar na medida em que, com a ajuda de Deus, trabalharemos juntos para o bem comum, colocando no centro os mais fracos e desfavorecidos. Não sabemos o que 2021 vai nos reservar, mas o que cada um de nós e todos nós juntos podemos fazer é de nos comprometer um pouco mais a cuidar uns dos outros e da Criação, a nossa Casa Comum.”

Além da preocupação com os mais necessitados, o Papa chamou para a responsabilidade de cada um diante de uma nova realidade imposta pela pandemia. Ao descrever “a tentação de cuidar apenas dos próprios interesses, de continuar fazendo a guerra – por exemplo – de se concentrar apenas no perfil econômico, de viver hedonisticamente, ou seja, buscando apenas satisfazer o próprio prazer”, Francisco relatou um fato que o deixou muito triste:

“Li nos jornais algo que me entristeceu bastante: em um país, não me lembro qual, para fugir do lockdown e ter boas férias, mais de 40 aviões saíram naquela tarde. Mas essas pessoas, que são boas pessoas, não pensaram naquelas que ficaram em casa, nos problemas econômicos de tantas pessoas que o lockdown derrubou, nos doentes? Apenas, tirar férias e dar prazer a si mesmo. Isso me entristeceu muito.”

Nascimento é sempre promessa de esperança

O Papa, então, dirigiu uma saudação especial a quem começa o Ano Novo com maior dificuldade e realmente precisa de um encorajamento: “aos doentes, aos desempregados, àqueles que vivem em situações de opressão ou exploração”.

“E, com carinho, desejo saudar todas as famílias, especialmente aquelas em que há crianças pequenas ou que estão esperando um nascimento. Um nascimento é sempre uma promessa de esperança: estou próximo a essas famílias. Que o Senhor o abençoe.”

Fonte:  VaticanNews

A importância da assistência espiritual em tempos de pandemia

Imagem: freepik

A assistência espiritual é um dos trabalhos de sustentação vicentina. Manter a chama acesa é uma Missão e tem sido um desafio nos últimos meses, desde que a pandemia do novo coronavirus se instalou no mundo. Reuniões, encontros, a Romaria e tantos outros eventos foram cancelados em nome da saúde dos nossos confrades, consócias e assistidos.

Agora mais do que nunca a chama da fé, da esperança, bem como o espírito vicentino tem que ser não só mantidos e sustentados, mas fomentados. Não podemos aceitar passivamente. E o ficar em casa deve nos desafiar. Como fazer além?

Segundo o Assessor Espiritual,Padre Emanoel Bedê Bertunes, (Congregação da Missão-CM) essa pergunta tem sido debatida frequentemente ao longo dos últimos meses. “Com a pandemia o trabalho da SSVP foi modificado em algo crucial, que é o contato presencial com os assistidos e os Pobres. Essa é uma condição sine qua non, é o cerne para sermos vicentinos e sermos fieis ao fundador Frederico Ozonam: o encontro com o Pobre. É um dado identitário e constitutivo da Sociedade de São Vicente de Paulo. Como fazer visitas aos assistidos com a pandemia? É algo que nos desafia, nos interroga neste momento”, afirma.

Para o Assessor espiritual, a pandemia ainda dificulta outro dado identitário da SSVP, que são as reuniões semanais das Conferências, e ainda é agravada por grande parte da Sociedade ser constituída por idosos. “Foi um desafio saber como nos manter ativos, unidos, mesmo com o distanciamento. A tecnologia nos ajudou muito a nos alimentar espiritualmente, através das reuniões e indicações de textos. Com os Pobres, mesmo sem as visitas, nós organizamos campanhas, fizemos iniciativas com grupos, a Rede de Afeto para socorrer quem tem a saúde mental comprometida pela situação de distanciamento, do contato com famílias, amigos, confrades e consócias. Nosso trabalho é primeiramente fortalecer esse vínculo espiritual, internamente, no caso dos vicentinos, para que esses laços não sejam fragilizados ou se quebrem com o tempo de pandemia”, conta o Padre Emanoel.

O Assistente Espiritual conta ainda que foi preciso recorrer, através da leitura de textos, vídeos e essas fontes alternativa, para fundamentar a nossa vida de oração, de busca criativa de atender o Pobre. “Para manter vivo nosso trabalho, tivemos que fazer parcerias com outros ramos da família vicentina, com a iniciativa de outros grupos da própria Igreja para que pudéssemos chegar e levar nossa assistência aos mais Pobres. Vamos a lugares que o Governo não chega, lugares desafiantes, com pessoas esquecidas e transformadas em estatísticas. Para fazer chegar a ajuda, até então feita, pelas visitas, tivemos que lançar mão de muitas estratégias, seguindo os protocolos de saúde”, ressalta.

As dificuldades trazidas pela pandemia não desanimaram os Assistentes Espirituais. O irmão Agenor Lima da Rocha, da Ordem dos Religiosos de São Vicente de Paulo e diretor espiritual dos Conselhos Metropolitanos de Rio Preto e São Carlos, explica que a formação conseguiu ser feita pela Internet e os trabalhos não pararam. Há cerca de 15 anos como Assessor espiritual, ele destaca a importância do trabalho. “A Assistência Espiritual é uma motivação para o vicentino chegar ao Pobre. Todo mundo foi se adaptando e o diretor espiritual neste momento é importante para assoprar a chama da caridade, não deixar ela se apagar e nem os confrades e consócias se abaterem. Esse é o nosso papel: transmitir esperança e dar apoio”, define.

O Irmão conta ainda que em seus Conselhos Metropolitanos foram realizadas 28 formações via Internet. “Além das formações, fazemos lives, levamos a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo e o alimento espiritual aos vicentinos. Temos nosso momento de evangelização, oração. A oração é o que tem nos mantido vivos. A fé se mostra nos momentos de dificuldades como esse. O que vai nos manter firmes neste momento é permanecermos com Jesus, é ir até o Pobre, levar esperança, manter a fraternidade, dar uma palavra de amor para unir as pessoas. É disso que precisamos”, avalia o Irmão.

E o quão inventivos estão tendo que ser nossos Assistentes Espirituais. O Padre Joelson Cezar Sotem, que tem encantado e ensinado a todos com seus vídeos, dá algumas sugestões e dicas:

“Primeira: Vamos lembrar do que São Vicente falava: É preciso abrasar os corações. Não se sinta inútil. Você continua sendo vicentino(a). Mas não deixe de assoprar a brasa…Para que esta chama permaneça acesa. Reze! Sentado no sofá, recorde suas visitas, lembre-se dos Pobres. Reze por eles. Talvez você nem tenha notícia de como eles estão. Por isso mesmo, reze, reze por eles”, enumera.

A segunda dica é a seguinte: “Temos um costume na Bíblia, onde passado sete anos se poupava a terra, para que ela descansasse. É o chamado ANO SABÁTICO. Hoje, algumas empresas utilizam desta metodologia, para reciclagem de seus funcionários. Ano sabático não é férias. É um tempo utilizado para se preparar, reciclar, organizar, estudar, avaliar, programar… para posteriormente realizar. Pois bem! Nós todos praticamente fomos colocados à força neste ANO SABÁTICO. Portanto, vamos aproveitar deste tempo? Qual a formação que você tem buscado ao longo desta pandemia para aprofundar-se no carisma vicentino? Quais foram suas leituras vicentinas? Quais “lives” que você participou? Que novidades você terá para apresentar e realizar num futuro próximo?”, questiona o Padre Joelson.

Ele finaliza: “Se você não fez NADA disso, ainda dá tempo. Não sabemos ao certo até quando tudo isso vai acabar. Muito provavelmente até a vacina chegar. Temos tempo ainda para vivenciarmos nosso ANO SABÁTICO. A assessoria vem justamente contribuir para que cada um de nós possa viver este ANO SABÁTICO dando ênfase à nossa vocação vicentina. Fizemos uma pausa, mas não deixamos de ser vicentinos”, ensina.

O Padre Emanoel termina lembrando que a pandemia serve para o fortalecimento. “O abatimento, o desencantamento, o pessimismo, todos esses males, não tomem conta de nossa mente, do nosso trabalho, mas que sejamos otimistas e sempre criativos para esse trabalho tão importante que a SSVP realiza e salva vidas”, finaliza.

Fonte: ssvpbrasil

Papa Francisco: A pandemia acentuou a difícil situação dos pobres

PAPA FRANCISCO – AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

A pandemia acentuou a difícil situação dos pobres e o grande desequilíbrio que reina no mundo. E o vírus, sem excluir ninguém, encontrou grandes desigualdades e discriminações no seu caminho devastador. E aumentou-as!

Portanto, a resposta à pandemia é dupla. Por um lado, é essencial encontrar uma cura para um pequeno mas terrível vírus que põe o mundo inteiro de joelhos. Por outro, devemos curar um grande vírus, o da injustiça social, da desigualdade de oportunidades, da marginalização e da falta de proteção dos mais débeis. Nesta dupla resposta de cura há uma escolha que, segundo o Evangelho, não pode faltar: é a opção preferencial pelos pobres (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium [EG], 195). E esta não é uma opção política; nem sequer uma opção ideológica, uma opção de partidos. A opção preferencial pelos pobres está no centro do Evangelho. E quem a fez primeiro foi Jesus; ouvimos isto no trecho da Carta aos Coríntios, lido no início. Ele, sendo rico, fez-se pobre para nos enriquecer. Fez-se um de nós e por isso, no centro do Evangelho, no centro do anúncio de Jesus, há esta opção.

O próprio Cristo, que é Deus, despojou-se, fazendo-se semelhante aos homens; e não escolheu uma vida de privilégio, mas escolheu a condição de servo (cf. Fl 2, 6-7). Aniquilou-se a si mesmo fazendo-se servo. Nasceu numa família humilde e trabalhou como artesão. No início da sua pregação, anunciou que no Reino de Deus os pobres são bem-aventurados (cf. Mt 5, 3; Lc 6, 20; EG, 197). Estava no meio dos doentes, dos pobres e dos excluídos, mostrando-lhes o amor misericordioso de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2444). E muitas vezes foi julgado como homem impuro, porque cuidava dos doentes, dos leprosos, que segundo a lei da época, eram impuros. E Ele correu riscos por estar próximo dos pobres.

Por esta razão, os seguidores de Jesus reconhecem-se pela sua proximidade aos pobres, aos pequeninos, aos doentes, aos presos, aos excluídos, aos esquecidos, a quantos não têm comida nem roupa (cf. Mt 25, 31-36; CIC, 2443). Podemos ler aquele famoso parâmetro sobre o qual todos seremos julgados, todos seremos julgados. É Mateus, capítulo 25. Este é um critério-chave de autenticidade cristã (cf. Gl 2, 10; EG, 195). Alguns pensam erradamente que este amor preferencial pelos pobres é uma tarefa para poucos, mas na realidade é a missão de toda a Igreja, dizia São João Paulo II (cf. Enc. Sollicitudo rei socialis, 42). «Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus para a libertação e promoção dos pobres» (EG, 187).

A fé, a esperança e o amor impulsionam-nos necessariamente para esta preferência pelos mais necessitados (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução sobre alguns aspetos da “Teologia da Libertação”, [1984], n. 5), que vai além da assistência necessária (cf. EG, 198). Trata-se de caminhar juntos, deixando-se evangelizar por eles, que conhecem bem Cristo sofredor, deixando-nos “contagiar” pela sua experiência de salvação, sabedoria e criatividade (cf. ibid.). Partilhar com os pobres significa enriquecer-se uns aos outros. E se existem estruturas sociais doentes que lhes impedem de sonhar com o futuro, devemos trabalhar em conjunto para as curar, para as mudar (cf. ibid., 195). A isto conduz o amor de Cristo, que nos amou até ao extremo (cf. Jo 13, 1) e chega inclusive aos confins, às margens, às fronteiras existenciais. Trazer as periferias para o centro significa centrar as nossas vidas em Cristo, que «se fez pobre» por nós, a fim de nos enriquecer «através da sua pobreza» (2 Cor 8, 9; cf. Bento XVI, Discurso inaugural da V Conferencia Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe [13 de maio de 2007], n. 3).

Estamos todos preocupados com as consequências sociais da pandemia. Todos. Muitos querem regressar à normalidade e retomar as atividades económicas. É claro, mas esta “normalidade” não deve incluir injustiça social e degradação ambiental. A pandemia é uma crise e não se sai iguais de uma crise: ou saímos melhores ou saímos piores. Nós deveríamos sair melhores, para resolver as injustiças sociais e a degradação ambiental.  Hoje temos uma oportunidade de construir algo diferente. Por exemplo, podemos fazer crescer uma economia de desenvolvimento integral dos pobres e não de assistencialismo. Com isto não pretendo condenar a assistência, as obras de assistência são importantes. Pensemos no voluntariado, que é uma das estruturas mais bonitas que a Igreja italiana possui. Mas devemos ir além e resolver os problemas que nos estimulam a fazer assistência. Uma economia que não recorra a remédios que na realidade envenenam a sociedade, tais como rendimentos dissociados da criação de empregos dignos (cf. EG, 204). Este tipo de lucro é dissociado da economia real, aquela que deveria beneficiar as pessoas comuns (cf. Enc. Laudato si’ [LS], 109), e é também por vezes indiferente aos danos infligidos à casa comum. A opção preferencial pelos pobres, esta necessidade ética e social que vem do amor de Deus (cf. LS, 158), dá-nos o estímulo para pensar e conceber uma economia onde as pessoas,  especialmente as mais pobres, estejam no centro. E também nos encoraja a projetar o tratamento do vírus, privilegiando quem tem mais necessidade. Seria triste se na vacina contra a Covid-19 fosse dada a prioridade aos mais ricos! Seria triste se esta vacina se tornasse propriedade desta ou daquela nação e não fosse universal e para todos. E que escândalo seria se toda a assistência económica que estamos a observar – a maior parte dela com dinheiro público – se concentrasse no resgate das indústrias que não contribuem para a inclusão dos excluídos, para a promoção dos últimos, para o bem comum ou para  o cuidado da criação (ibid.). Há critérios para escolher quais serão as indústrias que devem ser ajudadas: as que contribuem para a inclusão dos excluídos, para a promoção dos últimos, para o bem comum e para o cuidado da criação. Quatro critérios.

Se o vírus se voltar a intensificar num mundo injusto em relação aos pobres e aos vulneráveis, devemos mudar este mundo. Com o exemplo de Jesus, o médico do amor divino integral, isto é, da cura física, social e espiritual (cf. Jo 5, 6-9), – como era a cura que Jesus fazia – devemos agir agora, para curar as epidemias causadas por pequenos vírus invisíveis, e para curar as que são provocadas pelas grandes e visíveis injustiças sociais. Proponho que isto seja feito a partir do amor de Deus, colocando as periferias no centro e os últimos em primeiro lugar. Não esquecer aquele parâmetro sobre o qual seremos julgados, Mateus, capítulo 25. Ponhamo-lo em prática nesta retomada da epidemia. E a partir deste amor concreto, ancorado na esperança e fundado na fé, será possível um mundo mais saudável. Caso contrário, sairemos piores da crise. Que o Senhor nos ajude, nos conceda a força para sair melhores, respondendo às necessidades do mundo de hoje.


Saudações:

Dirijo uma cordial saudação aos fiéis de língua portuguesa. Aprendamos do Senhor, que se fez alimento para nós na Eucaristia, convertendo-nos, também nós, em alimento para os outros, ou seja, mais disponíveis, servindo os necessitados, especialmente os mais pobres. Que Deus lhes abençoe!

Resumo da catequese do Santo Padre:

A pandemia evidenciou a difícil situação dos pobres e a grande desigualdade no mundo, e que, ao contrário do vírus, que não faz exceção entre ricos e pobres, os homens, sim, fazem discriminações. Por essa razão, a resposta à pandemia deve ser dupla: encontrar a cura para o vírus do corpo e curar o grande vírus da injustiça social. Neste contexto, há uma escolha que não pode faltar: a opção preferencial pelos pobres. De fato, o próprio Cristo, Deus feito homem, quis nascer numa família humilde e anunciou que são bem-aventurados os pobres. Por isso, os discípulos de Jesus – todos na Igreja – movidos pela fé, esperança e caridade devem caminhar junto com os pobres, pequeninos, doentes, encarcerados, excluídos e esquecidos, deixando-se também evangelizar pelo seu exemplo de fé. Oxalá o desejo de voltar à normalidade e retomar as atividades econômicas após a pandemia não signifique voltar a considerar as injustiças e o degrado do ambiente como algo normal. Que o exemplo de Jesus, médico do corpo e da alma, inspire uma economia do desenvolvimento integral dos pobres, que supere o assistencialismo, e que os esforços por encontrar uma cura para o vírus possam privilegiar os mais necessitados, de modo que possamos ter esperança num mundo verdadeiramente mais sadio. 

Fonte: SSVP GLOBAL

Na pandemia a santidade pode estar “ao pé da porta”

Recordamos aqui o essencial da Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a santidade. Palavras que são ajuda no tempo difícil de pandemia que estamos a viver.

O tempo de pandemia que estamos a viver é muito desafiante, pois à regra do distanciamento social deveria sobrepor-se o imperativo da proximidade solidária dos cristãos junto de quem sofre. Os gestos simples e pequenos que podem ser a prática de uma vida de santidade. Uma santidade que pode estar ali “ao pé da porta”, como escreve o Papa na sua Exortação Apostólica sobre a santidade publicada em abril de 2018. “Gaudete et Exsultate”, “Alegrai-vos e Exultai” é o título do texto do Santo Padre do qual recordamos aqui o essencial.

Classe média da santidade

No documento de Francisco pode-se ler uma expressão que marca o espírito desta Exortação: classe média da santidade. Escreve Francisco:

“Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da «classe média da santidade»”.

Estilos femininos de santidade

De destacar no texto do Santo Padre a atenção para com os “estilos femininos de santidade”:

“A propósito de tais formas distintas, quero assinalar que também o «génio feminino» se manifesta em estilos femininos de santidade, indispensáveis para refletir a santidade de Deus neste mundo. E precisamente em períodos nos quais as mulheres estiveram mais excluídas, o Espírito Santo suscitou santas, cujo fascínio provocou novos dinamismos espirituais e reformas importantes na Igreja. Podemos citar Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; mas interessa-me sobretudo lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho” – escreve o Papa.

Cansar-se vivendo as obras de misericórdia

Segundo Francisco “quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida, quem realmente se quer santificar” deve corresponder a um chamamento: “a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia”. Estas atitudes são essenciais para não permitir que o consumismo da nossa sociedade nos possa enganar. Escreve o Santo Padre:

“O consumismo hedonista pode-nos enganar, porque, na obsessão de divertir-nos, acabamos por estar excessivamente concentrados em nós mesmos, nos nossos direitos e na exacerbação de ter tempo livre para gozar a vida. Será difícil que nos comprometamos e dediquemos energias a dar uma mão a quem está mal, se não cultivarmos uma certa austeridade, se não lutarmos contra esta febre que a sociedade de consumo nos impõe para nos vender coisas, acabando por nos transformar em pobres insatisfeitos que tudo querem ter e provar. O próprio consumo de informação superficial e as formas de comunicação rápida e virtual podem ser um fator de estonteamento que ocupa todo o nosso tempo e nos afasta da carne sofredora dos irmãos. No meio deste turbilhão atual, volta a ressoar o Evangelho para nos oferecer uma vida diferente, mais saudável e mais feliz.”

Bem-aventuranças: bilhete de identidade do cristão

Para o Papa, nesta sua Exortação Apostólica, existe um método para o caminho da santidade: as bem-aventuranças. Declara o Santo Padre:

“Sobre a essência da santidade, podem haver muitas teorias, abundantes explicações e distinções. Uma reflexão do género poderia ser útil, mas não há nada de mais esclarecedor do que voltar às palavras de Jesus e recolher o seu modo de transmitir a verdade. Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23). Estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre «como fazer para chegar a ser um bom cristão», a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida.”

E para cumprir as bem-aventuranças e viver a santidade no mundo atual, o Papa Francisco aponta algumas características necessárias a desenvolver pelos cristãos: a oração, a paciência, a mansidão, a ousadia e também a alegria e o bom humor. Aliás, neste particular do bom humor, o Papa cita alguns santos como S. Tomás Moro, S. Vicente de Paulo e S. Filipe Néri e sublinha que “o mau humor não é um sinal de santidade”. A alegria, essa sim, é característica de santidade porque, como escreve o Papa “ser cristão é «alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17)”. Mas, Francisco avisa que não se trata de uma alegria consumista:

“Não estou a falar da alegria consumista e individualista muito presente nalgumas experiências culturais de hoje. Com efeito, o consumismo só atravanca o coração; pode proporcionar prazeres ocasionais e passageiros, mas não alegria. Refiro-me, antes, àquela alegria que se vive em comunhão, que se partilha e comunica, porque «a felicidade está mais em dar do que em receber» (At 20, 35) e «Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7)” – diz o Santo Padre.

Discernir para viver em santidade

Francisco conclui a sua Exortação Apostólica sobre a santidade assinalando uma “necessidade imperiosa”: “a capacidade de discernimento”. Escreve o Papa:

“Hoje em dia, tornou-se particularmente necessária a capacidade de discernimento, porque a vida atual oferece enormes possibilidades de ação e distração, sendo-nos apresentadas pelo mundo como se fossem todas válidas e boas.”

Na sua Exortação sobre a santidade, “Alegrai-vos e Exultai”, o Papa Francisco exorta-nos a encontrar a “sapiência do discernimento” e alerta, sobretudo os jovens, para o perigo de vivermos segundo as “tendências da ocasião”.

Em tempo de pandemia, reler as palavras do Papa sobre a santidade pode ajudar a encontrarmos nos outros a razão da nossa vida, praticando uma solidariedade ativa que se transforme em caridade do coração.

Fonte: Vaticannews