SSVP e parceiros inspiram a mudança na vida das assistidas ao redor do país

SSVP BRASIL

O Dia Internacional da Mulher celebra a trajetória das mulheres ao longo dos anos na sociedade. A busca por direitos, independência, reconhecimento e segurança. Celebra suas conquistas e chama atenção para essas e outras são as bandeiras levantadas pela data. Dentro da SSVP, as mulheres, sejam elas consócias ou assistidas, também possuem uma história marcante.

Brechó “Nosso Cabide”

Contemplada em um dos Projetos Sociais dos vicentinos, Patrícia hoje se considera uma mãe realizada. Solteira e mãe de 4 meninas, ela cria as meninas sozinhas e arca com todas as despesas. “Não tenho ajuda financeira, recebo Bolsa Família, é pouco, mas ajuda”, conta um pouco da sua história. Ela faz parte de uma das diversas famílias assistidas pela SSVP e uma das que foi agraciada com a Contribuição da Solidariedade que, desde 2011, já atendeu 451 projetos que influenciaram na vida das famílias ajudadas pelas Conferências.

“A família vicentina tem me ajudado, com alimentos, conselhos, palavras, amizades, dedicação e eu só tenho a agradecer”. O brechó “Nosso Cabide” surgiu após uma conversa com a filha, na qual ela sugeria a criação de um bazar ou um brechó. “Um dia recebi algumas doações de roupas para minhas filhas e uma falou: ‘mãe, a faxina sumiu, não está mais tendo faxina, pessoal tá pegando e fazendo’, aí veio a pandemia e, em seguida, minha filha deu a ideia”, relembra Patrícia.

A assistida conta que, mesmo com dúvidas se a empreitada daria certo, decidiu apostar na sugestão da filha e começou a comentar e divulgar para conhecidos, colegas e pessoas para quem trabalhava. “As pessoas disseram para eu começar a divulgar em grupo, falar para as pessoas, com os colegas das minhas filhas e o brechó foi surgindo”.

Mesmo com pouco, apenas as roupas que recebia de doação, Patrícia correu atrás de fazer dar certo. Ganhou cabides, realizava algumas vendas e começou a buscar por araras, para expor os produtos. “Sei que a primeira venda que tive, na primeira casa morando, eu consegui fazer R$ 100 Com esse dinheiro consegui comprar a minha primeira arara, então comecei a comprar mais cabides, ir encaixando as roupas e colocando os preços”, conta Patrícia.

Aos poucos, o brechó foi crescendo, mais pessoas foram conhecendo o pequeno empreendimento e hoje elas contam com algumas modernidades: “fui contemplada com o valor de R$ 2500 dos vicentinos, o que permitiu que eu comprasse mais coisa para inovar e melhorar o brechó. Tenho maquininhas do Nubank e do Mercado Pago. As coias mudando muito, tem ajudado a gente”.

Patrícia teve ajuda da Conferência Nossa Senhora do Rosário, de Belo Horizonte/MG, área do Conselho Metropolitano de Contagem,  para elaborar o Projeto. O confrade Valdemir, com apoio da mulher, Tereza, e da presidente da Conferência, Luíza e Maria Silveiro, definiram o plano e garantiram a eterna gratidão da assistida: “eu estou muito satisfeita, muito alegre, porque isso mudou a minha vida e das minhas filhas. Antes a gente não sabia o que era comer carne, hoje a gente vai ao açougue e compra dois, três tipos de carne, pode colocar fruta aqui na mesa”, celebra Patrícia.

O brechó “Nosso Cabide”, nome idealizado por suas filhas, fica na cidade de Belo Horizonte/MG, no Bairro Camargos, Rua Andira, 264. As compras podem ser realizadas diretamente no local, assim como as doações. Patrícia, assim como suas filhas, gerenciam a loja, que fica aberta de segunda a sexta, das 9h às 19h, e de sábado, domingo e feriados, até às 17h.

Maria Vão com as Outras Sim

Mas além dos Projetos Sociais, a comunidade vicentina também firma parcerias com ONGs e coletivos para capacitar as mulheres. Realizado em uma das propriedades da SSVP em Sarzede, o Plrojeto Costura Criaiva, do coletivo Maria Vão com as Outras Sim, surgiu para empoderar mulheres, dando a elas a oportunidade de se profissionalizar e gerar a própria renda.

Os Projetos Custura Criativa e Agroecologia acontecem desde 2021, no Bairro Brasília, sob assistência do Conselho Central de Ibirité/MG, que abrange Ibirité, Sarzede e Mario Campos. “O curso já formou 12 mulheres através do  Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar),  com a implantação da horta orgânica, e com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais, através do curso de compostagem, fertilizantes e monhocario”, conta Deucilene da Silva, uma das coordenadoras gerais do Maria Vão com as Outras Sim.

A parceria com os vicentinos foi fruto de uma articulação da rede, diante da situação da pandemia no país. “Os vicentinos já tinham uma prática de assistência, que se uniu com os interesses coletivos e sociais já praticados pelas Marias Vão com as Outras Sim”, explica Deucilene.

Atualmente, o Projeto atende oito mulheres nas práticas de agroecologia e quatro na costura criativa. “Nosso principal objetivo é empoderar mulheres negras, periféricas, mães solos e pessoas em situação de vulnerabilidade social, desenvolvendo ações pautadas na economia solidaria, na cultura do bem viver, cooperativismo, princípios democráticos, da solidariedade com respeito a natureza e a promoção da dignidade, emancipação e valorização da vida”, diz a coordenadora.

Para conhecer mais sobre o coletivo e os trabalhos desenvolvidos, entre em contato com o email:  [email protected]

Concurso Pintando a Fraternidade de 2022 prepara os jovens vicentinos

Neste ano a SSVP realiza a 7ª edição do Concurso Pintando a Fraternidade, voltado para as crianças e adolescentes das Conferências de Crianças e Adolescentes (CCA). O tema deste ano será o mesmo da Campanha da Fraternidade de 2022, “Fraternidade e Educação: fala com sabedoria, ensina com o amor”, que vai ao encontro do Ano Temático da SSVP, “Missões: Saber Cuidar”.

“O concurso é um atrativo que a Coordenação da CCA do Conselho Nacional do Brasil faz com muito carinho para todas as crianças e adolescentes de nossas Conferências. Com objetivo de motivar e incentivar nossos pequeninos a se unirem por uma causa maior: servir nossos Mestres e Senhores e fazer o encontro com nosso Salvador, Jesus Cristo, neles. Temos a certeza de que se começarmos a mostrar para nossas crianças a importância de Servir, visando transformar vidas, o objetivo deste concurso estará sendo alcançado”, explica um dos responsáveis pelo projeto, o confrade Leandro Ávila Prudente, coordenador do CCA da Região IV, da Conferência Nossa Senhora Rosa Mística, de Baependi/MG.

Como mencionado por Leandro, a intenção é que os orientadores das CCA’s desenvolvam com as crianças trabalhos sobre o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, fomentando a discussão do assunto desde a infância, para formar o futuro dos vicentinos.

O concurso é realizado desde 2016 e os organizadores esperam por um amplo engajamento. “Não sabemos precisar quantas crianças vão participar, mas o desejo de nossa equipe é que o regulamento do Concurso Pintando a Fraternidade chegue em todas as CCA’s e que todas as crianças tenham a oportunidade de participar, nos abrilhantando com a magia de sua criatividade e ainda concorrendo aos prêmios oferecido pela equipe da CCA do Conselho Nacional do Brasil”, enfatiza o confrade.

 A organização do evento é responsabilidade da Coordenação das CCA’s, que englobam oito pessoas, entre confrades e consócias. “O concurso deste ano vem com uma responsabilidade um pouco maior do que as outras edições, por se tratar de um momento muito difícil em que vivemos, onde muitas Conferências de Crianças e Adolescentes ainda não voltaram a se reunir. Mas com o tema “Fraternidade e Educação” e “Missões: Saber cuidar”, temos a certeza que estamos no caminho certo para dar a volta por cima e recomeçar com força total, pois um dos objetivos deste concurso é mostrar para as crianças e adolescentes da Sociedade de São Vicente de Paulo do Brasil que o futuro das nossas unidades são elas, por isso precisamos Saber Cuidar, para que  o futuro delas na SSVP aconteça, mas aconteça com responsabilidade. Precisamos formar crianças com consciência de que algum dia elas irão estar em nossos lugares dando continuidade a essa grande Rede de Caridade”, reflete Leandro.

Como participar?

As inscrições vão do dia 1º de abril a 1º de setembro deste ano e é necessário preencher a ficha de inscrição, que será disponibilizada pelas CCA’s de cada região, e fazer o desenho no verso do documento.

Ela deve ser enviada por Correios para o endereço oficial do Conselho Nacional do Brasil (Rua Riachuelo, 75 – Centro – Rio de Janeiro/RJ – Brasil CEP: 20230-010) ou para o e-mail – [email protected] -, onde a ficha deve ser digitalizada de forma legível, colorida, frente e verso, anexando o documento a mensagem.

O concurso será realizado em duas categorias: A (crianças de 6 a 11 anos) e B (12 a 15 anos). Ficam inelegíveis para o projeto, os filhos, irmãos e netos dos membros da Diretoria do Conselho Nacional do Brasil.

Padre Emanoel reflete sobre a importância da oração para o cristão

No dia 4 de março é celebrado o Dia Mundial da Oração e conversamos com o Padre Emanoel Bedê, Assessor Espiritual dos vicentinos, para entender a importância do ato na vida do Cristão.

O padre relembra a fala de São Vicente de Paulo: “Dai-me uma pessoa de oração e ela será capaz de tudo!”. Segundo o religioso, a oração é um lugar de encontro profundo e transformador com o Senhor, um caminho de acesso e a chave da porta pela qual o cristão chega ao divino. “A oração simples e humilde, como daquele publicano no Evangelho de Lucas, que, reconhecendo a sua condição humilhante de pecador, balbuciou uma simples prece brotada do coração que lheabriu uma janela espiritual que conduz à salvação”, comenta.

Na espiritualidade cristã, a oração é um tesouro da vida dos Santos, que se inspiram no Mestre, que tantas vezes se retirava para rezar a sós para elevar suas preces ao Pai. “O Dia Mundial da Oração vem ao encontro do início da Quaresma, tempo oportuno para refletir sobre a mudança de vida, de hábitos e de atitudes. A oração é uma das proposições quaresmais para encontrarmos com o caminho da conversão do nosso coração. Devemos tomar consciência de que ‘toda nossa vida deveria ser uma oração’, um diálogo permanente, profundo e fecundo com Deus, para que nós possamos acolhê-lo em nossa vida com a intimidade que nos liberta do medo, que outrora deixava o coração inseguro e coloca em seu lugar a certeza de que Ele, que já nos conhece desde nossa concepção, nos ama incondicionalmente, entende e nos acolhe com nossas misérias e limites”, explica o clérigo.

Padre Emanoel ainda relembra que, para os vicentinos, herdeiros do carisma de São Vicente de Paulo, e discípulos do Beato Frederico Ozanam, a oração é o caminho de união com Deus, em Jesus Cristo, evangelizador dos Pobres. “É o lugar onde descobrimos e discernimos a vontade de Deus. A oração, nos dizia o Santo, é ‘uma fonte de juventude, pela qual somos rejuvenescidos’. ‘A oração é para a alma o que é o alimento para o corpo’. ‘É um suave orvalho que, a cada manhã, refresca a alma’. ‘A oração é uma pregação que fazemos a nós mesmos para convencer-nos da necessidade que temos de recorrer a Deus e de cooperar com sua graça para extirpar os vícios de nossa alma, nela implantando as virtudes’, reflete o religioso.

Para a data, o padre indica a Oração pela Paz para todos os membros da SSVP:

 “Meu Deus, Tu que és soberano e que governas sobre todos,

Tu que conheces cada pensamento e ação do ser humano,

Escuta minha oração porque sofro vendo a dor

daqueles que padecem a violência de uma guerra

que devora a vida que Tu nos deste.

Detém o pensamento hostil, a ambição e a cobiça.

Toma o controle das decisões dos governantes

Para conduzi-los pelos caminhos da paz.

Não permitas que o inocente morra ou seja ferido nas mãos de seu opressor.

Defenda o fraco. Cuida daqueles que sem motivos sofrem perdas.

Pai, Te entregamos o destino destas nações,

Enquanto te pedimos que tragas Tua paz sobre elas.

Amém!”

Carta da Quaresma 2022 do P. Tomaž Mavrič, CM, à Família Vicentina

Família Vicentina

Roma, Quaresma 2022

A todos os membros da Família Vicentina

MÍSTICO DA CARIDADE PARA ALÉM DO SÉCULO XXI

Meus queridos irmãos e irmãs,

A graça e a paz de Jesus estejam sempre conosco!

Após seis anos, o meu mandato está chegando ao fim. Através desta carta da Quaresma, gostaria de sintetizar as reflexões do Advento e da Quaresma destes últimos seis anos, começando pela primeira mensagem enviada à Família Vicentina, pela ocasião da festa de São Vicente de Paulo, em 2016. Foi nesta carta que, pela primeira vez, refleti de forma detalhada sobre o título: “místico da Caridade” que é atribuído ao nosso Fundador. A partir deste tema, tão precioso ao meu coração, tentei descobrir por mim mesmo, enquanto partilhava-o com cada um, o que desejei ardentemente aprofundar, isto é, o que significa tornar-se um “místico da Caridade”.

A busca realizada nestes seis anos está longe de terminar; de fato, é apenas um começo e um apelo a continuar mergulhando na riqueza e profundidade do que significa tornar-se um “místico da Caridade”. Ela nos convida a buscar sem cessar a união, a mais íntima possível, com Jesus e tornar-se como os “contemplativos em suas Casas e os apóstolos nas ruas,[1] “contemplativo na ação e apóstolo na contemplação”[2].

Ao ler a carta da Quaresma deste ano, e ao estudar as reflexões partilhadas ao longo destes últimos seis anos,  somos convidados a escolher um aspecto ou uma situação na qual percebemos que Jesus nos chama a retornar, de uma forma mais decisiva e radical, onde sentimos uma particular necessidade da sua graça e misericórdia para que Ele possa realizar o seu sonho em nós.

O teólogo Karl Rahner, no final do século XX, tinha pronunciado estas palavras proféticas: “O cristão do século XXI será místico ou não será cristão”. Por que podemos dizer que São Vicente de Paulo era um “místico da Caridade”?

Todos sabemos que Vicente era um homem de ação, também podemos ficar surpresos que possam apresentá-lo igualmente como um místico. Mas na verdade, era sua experiência mística da Trindade e, em particular a Encarnação, que motivava todas as suas ações em favor das pessoas pobres. Giuseppe Toscani, CM, unia mística e ação e ia ao cerne da questão chamando-o de “um místico da Caridade”. Vicente viveu em um século de místicos, mas ele se revelou como o místico da Caridade.

Ser um místico implica uma experiência, a experiência do mistério. Para Vicente, isso significava uma profunda experiência do mistério do amor de Deus. Sabemos que os mistérios da Trindade e da Encarnação estavam no âmago de sua vida. A experiência do amor abrangente da Trindade pelo mundo e a união incondicional do Verbo encarnado com toda pessoa humana modelou, condicionou e inflamou seu amor pelo mundo e por todo mundo, especialmente pelos irmãos e irmãs necessitados. Ele olhava o mundo com os olhos do Pai (Abba) e de Jesus, e acolhia todo mundo com o amor incondicional, o ardor e o dinamismo do Espírito Santo.

A mística de Vicente era a fonte de sua ação apostólica. O mistério do amor de Deus e o mistério dos pobres eram os dois polos do amor dinâmico de Vicente. Mas o caminho de Vicente tinha uma terceira dimensão que consistia na sua maneira de considerar o tempo. O tempo era o meio pelo qual a Providência de Deus se manifestava a ele. Ele agia conforme o tempo de Deus e não conforme seu próprio ritmo. “Façamos todo o bem que se achar para fazer,” aconselhava. “Não passar por cima da Providência”.

Um outro aspecto da temporalidade em Vicente era a presença de Deus aqui e agora -“Deus está presente!” Deus está presente no tempo. Deus está presente nas pessoas, nos acontecimentos, nas circunstâncias, nas pessoas pobres. Deus nos fala agora, neles e através deles.

Para Vicente, as dimensões horizontais e verticais da espiritualidade eram indispensáveis. Ele considerava que o amor de Cristo e o amor dos pobres eram inseparáveis. Exortava continuamente os seus discípulos não somente a agir, mas também a rezar, e não só a rezar, mas igualmente a agir. Diante de uma objeção de seus discípulos: “Mas, senhor Padre, há tanto que fazer, tantos ofícios na casa, tantos trabalhos na cidade, nos campos; trabalho por toda parte. É preciso, porventura, deixar tudo de lado para só pensar em Deus?” E ele respondia com veemência:

“Não, mas devemos santificar essas ocupações, buscando Deus nelas e fazê-las antes com o fim de encontrá-lo nelas do que pelo gosto de vê-las feitas. Quer Nosso Senhor que, antes de tudo, procuremos sua glória, seu reino, sua justiça e, para isso, façamos da vida interior, da fé, da confiança, do amor, dos exercícios de religião, da oração, das confusões, das humilhações, dos trabalhos e dos sofrimentos, o que há de mais importante para nós, visando a Deus, nosso soberano Senhor. Apresentemos-lhe as ofertas contínuas de nossos serviços e de nossas aspirações no sentido de conquistar reinos para sua bondade, graças para sua Igreja e virtudes para a Companhia. Uma vez firmados assim na busca da glória de Deus, estejamos seguros de que tudo mais se seguirá” [3].

De outra perspectiva, poderíamos descrever Vicente como um místico “com duas visões. Em outras palavras, ele (via) fazia a experiência do mesmo Deus através de duas lentes diferentes e isso, simultaneamente. Uma das lentes era a sua própria oração; a outra era o pobre, bem como o mundo em que este vivia. Cada ângulo da visão influenciou o outro, um aprofundando e aperfeiçoando a percepção do outro. Vicente “viu” (e sentiu) o amor de Deus através destes dois prismas ao mesmo tempo e agiu energicamente para responder ao que ele via.

A “Encarnação” é um dos mistérios centrais da espiritualidade de São Vicente de Paulo. Ele nos deixou os seguintes pensamentos sobre a Encarnação:

“Como, segundo a Bula de ereção da nossa Congregação, devemos venerar de maneira particular os inefáveis mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação, procuraremos cumprir isto com o maior cuidado e, se puder ser, de todas as maneiras, mas principalmente executando estas três coisas: 1ª fazendo frequentemente do íntimo do coração atos de fé e religião sobre estes mistérios; 2ª oferecendo todos os dias à sua glória algumas orações e obras pias e principalmente celebrando as suas festas com solenidade e com a maior devoção que pudermos; 3ª trabalhando com toda vigilância para, com instruções e exemplos nossos, infiltrar nos ânimos dos povos o conhecimento, honra e culto deles[4]”.

A Santíssima Trindade é um outro mistério fundamental da Espiritualidade de São Vicente. Nas Constituições da Congregação da Missão, podemos ler: “Como testemunhas e anunciadores do amor de Deus, devemos ter devoção e prestar culto, de modo especial, aos mistérios da Trindade e da Encarnação”[5]. Jesus nos ajuda a compreender a relação que existe entre as três Pessoas, o vínculo íntimo que as une, a influência da Trindade tanto sobre cada pessoa, individualmente, quanto sobre a sociedade como um todo. A Santíssima Trindade é o modelo perfeito das “relações”!

O terceiro pilar da espiritualidade de São Vicente é a Eucaristia. Em um dos seus escritos sobre os fundamentos da nossa espiritualidade, onde ele menciona a Encarnação e a Santíssima Trindade, São Vicente nos faz entender que na Eucaristia encontraremos tudo, assim expressou:

“E porquanto, para venerar perfeitamente estes mistérios, [da Santíssima Trindade e da Encarnação] nenhum meio pode dar-se mais excelente do que o devido culto e bom uso da sagrada Eucaristia, quer a consideremos como sacramento quer como sacrifício, pois contém em si como que a suma dos outros mistérios da fé e por si mesma santifica e, finalmente, glorifica as almas dos que dignamente comungam e devidamente celebram, e daí resulta amplíssima glória a Deus uno e Trino e ao Verbo Encarnado. Por isto nada teremos por mais recomendado do que rendermos a devida honra a este sacramento e sacrifício como também trabalharmos com todo o desvelo para que por todos lhe seja dada a mesma honra e reverência, o que procuraremos cumprir com todo o esforço, impedindo principalmente, quanto puder ser, que acerca dele algo se faça ou diga irreverentemente, e ensinando com diligência aos outros o que devem crer deste tão soberano mistério e de que modo devem venerá-lo” [6].

Com esta intuição de que na Eucaristia podemos encontrar tudo, acrescentam-se outras palavras proféticas e inspiradoras, nascidas da sua mais profunda experiência de vida: “o amor é inventivo até o infinito” [7]. Uma das frases mais conhecidas de Vicente, tendo utilizado estas palavras específicas com referência à Eucaristia, para tentar explicar o que é a Eucaristia, o que a Eucaristia produz, o que encontramos na Eucaristia. A imaginação de Jesus encontrou este meio concreto para estar sempre conosco, nos acompanhar sempre e permanecer conosco todos os dias, até o fim do mundo. Seu amor, inventivo até o infinito, não cessa de nos surpreender, hoje, aqui e agora!

O quarto fundamento é a Santíssima Virgem Maria.

  1. “Com especial devoção, cultuaremos também Maria, Mãe de Cristo e da Igreja. Ela, na expressão de São Vicente, contemplou e traduziu em sua vida a mensagem evangélica, de modo mais profundo que todos os fiéis.
  2. Manifestaremos, de diversas formas, nossa devoção á Imaculada Virgem Maria, celebrando piedosamente suas festas e invocando-a com frequência, sobretudo, por meio do rosário. Divulgaremos a mensagem especial, expressa por sua maternal benevolência na Medalha Milagrosa”[8].

Uma das principais fontes na qual, como místico da Caridade, Vicente bebeu foi a oração diária. Uma das frases mais citadas de São Vicente, tirada de uma conferência dada aos membros da Congregação da Missão, expressa com eloquência a atitude de Vicente:

“Dai-me um homem de oração e ele será apto para tudo. Poderá dizer com o Santo Apóstolo: “Tudo posso naquele que me sustenta e me conforta” (Fl 4, 13). A Congregação da Missão subsistirá enquanto o exercício da oração nela for fielmente praticado, porque a oração é como uma fortaleza inexpugnável que protegerá os missionários contra toda a sorte de ataques”[9].

Vicente falava da oração cotidiana. Ele afirmou aos seus seguidores:

“Ora, avante, demo-nos todos à prática da oração, pois, por meio dela nos vêm todos os bens. Se perseveramos na vocação, será graças à oração. Se tivermos bom êxito em nossos encargos, será graças à oração. Se não cairmos no pecado, será graças à oração. Se permanecermos na caridade, se nos salvarmos, tudo isso será graças a Deus e à oração. Assim como Deus nada recusa à oração, quase nada concede sem a oração”[10].

A direção espiritual: São Vicente costumava falar sobre a necessidade da direção espiritual … a direção espiritual é muito útil. É um espaço para conselhos nas dificuldades, de encorajamento nos desgostos, de refúgio nas tentações, de força nos desalentos. Enfim, é uma fonte de bens e de consolação, quando o diretor é bastante caridoso, prudente e experimentado”[11].

O objetivo de falar com um guia espiritual, expressado claramente desde a época dos Padres e Madres do deserto, é simples: trata-se da pureza do coração. Vicente recomendava a direção espiritual pelo menos várias vezes por ano[12], em particular durante os retiros ou os tempos litúrgicos como a Quaresma.

O Sacramento da Reconciliação: São Vicente também pensava que a misericórdia estava no centro da Boa-Nova. Ele a descreveu como “… esta bela virtude da qual se diz: o próprio Deus é a misericórdia’”[13].

As Constituições da Congregação da Missão nos encorajam a recorrer incessantemente ao Sacramento da Reconciliação “para que possamos realizar nossa conversão contínua e conseguir sinceridade à nossa vocação”[14].

A partilha da fé: As Constituições nos aconselham[15] e insistem que numa atmosfera de oração“no exercício do diálogo fraterno, nos comunicamos uns aos outros os frutos de nossa experiência espiritual e apostólica”. A comunidade, a qual pertencemos, escolhe o critério de como realizá-la. Vicente de Paulo gostava muito quando a partilha era franca e concreta. Ele dizia:

“É uma boa prática entrarmos no pormenor das coisas humilhantes, quando a prudência nos permite declará-las abertamente, por causa do proveito que todos tiram daí, vencendo-nos a nós mesmos na repugnância que sentimos em manifestar o que a soberba quereria conservar escondido. Santo Agostinho publicou os pecados secretos da sua mocidade, compondo um livro sobre eles, para que toda a terra conhecesse as estravagâncias dos seus erros e os excessos do seu desregramento. E esse vaso de eleição, São Paulo, esse grande apóstolo, que foi arrebatado até ao céu, não confessa que perseguira a Igreja? Ele próprio o deixou escrito para que, até à consumação dos séculos, se soubesse que tinha sido um perseguidor”[16].

Um outro fundamento da espiritualidade vicentina é a Providência. São Vicente, tendo total confiança na Providência, tornou-se a própria Providência para os outros, para os pobres. “Entreguemos, entretanto, isso à conduta da sábia Providência de Deus. Tenho uma devoção especial em segui-la, e a experiência me faz ver que ela faz tudo na Companhia e que nossas providências o impedem”[17].

O que fez de São Vicente um místico da Caridade, foi o fato de que a oração estava no cerne da sua vida.  Ela tornou-se uma força transformadora. A oração é um estado de espírito, uma relação contínua com Jesus. Falo, escuto e compartilho com alguém que é o “Amor” da minha vida e que anseio ardentemente me assemelhar.

“Porquanto, crede-me, meus senhores e meus irmãos, crede-me, é uma máxima infalível de Jesus Cristo, que frequentemente vos anunciei de sua parte, a saber: tão logo um coração se esvazie de si próprio, Deus o encherá; Deus nele habitará e agirá em seu íntimo; é o desejo da confusão que nos tornará vazios de nós mesmo, é a humildade, a santa humildade; então não seremos nós a agir mas, sim, Deus em nós, e tudo irá bem”[18].

Os doentes e as pessoas idosas: São Vicente falou várias vezes sobre o papel dos doentes:

“Mas para a Companhia, pobre Companhia! Oh! nunca se permita algo de singular, nem nos alimentos, nem nas vestes. Excetuo sempre os doentes, oh! pobres doentes! para cuja assistência cumpriria vender até os cálices da Igreja. Cumulou-me Deus de ternura para com isso e peço-lhe dê tal espírito à Companhia[19].

“Em qualquer parte em que visitarem algum enfermo, em casa ou fora dela não o considerarão como homem, mas como o próprio Cristo, que afirma ser a Ele que se presta tal obséquio”[20].

Vicente de Paulo ao tornar-se um “místico da Caridade” compreendeu e viveu a relação com os doentes e as pessoas idosas, a exemplo de Jesus.

No início desta carta escrevi que a busca, destes seis anos, sobre o que significa tornar-se um “místico da Caridade” está longe de terminar, continuaremos mergulhando na sua riqueza e na sua profundidade.

Para não desanimarmos, durante o itinerário desta peregrinação, recordamos que foi Jesus quem nos chamou para segui-Lo no caminho da nossa vocação. Ele permanece sempre conosco, assim como Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, São Vicente de Paulo e todos os Santos, Bem-aventurados e Servos de Deus da Família Vicentina. Que eles intercedam por nós!

Seu irmão em São Vicente,
Tomaž Mavrič, CM

Notas:

[1] Louis Abelly, La vie du vénérable Serviteur de Dieu Vincent de Paul, (A vida do venerável servo de Deus, Vicente de Paulo) 1664, Livre I, chapitre 22, p. 100.

[2] Constituições da Congregação da Missão, IV, 42.

[3] Obras Completas, SV XII, p.134; conf. sobre a procura do Reino de Deus, 21 de fevereiro de 1659.

[4] Regras Comuns da Congregação da Missão, X, 2.

[5] Constituições da Congregação da Missão, IV, 48.

[6] Regras Comuns da Congregação da Missão, X, 3.

[7] Obras Completas, SV XI, p. 150; conf. 102, exortação a um Irmão na iminência da morte”, 1645.

[8] Constituições da Congregação da Missão, IV, 49.

[9] Obras Completas, SV XI, p. 85; conf. “sobre a oração”.

[10] Obras Completas, SV XI, p. 417; conf. sobre a partilha de oração, 10 de agosto de 1657.

[11] Obras Completas, SV III, p. 751, carta à Irmã Jeanne Lepeintre, 23 de fevereiro de 1650.

[12] cf. Regras Comuns da Congregação da Missão X, 11.

[13] Obras Completas, SV XI, p. 373; conf. sobre a partilha de oração, 2 e 3 de novembro de 1656.

[14] Constituições da Congregação da Missão, IV, 45, § 2.

[15] Constituições da Congregação da Missão, IV, 46.

[16] Obras Completas, SV XI, p. 55; conf. sobre a humildade.

[17] Obras Completas, SV II, p. 488; carta a Bernardo Codoing.

[18] Obras completas, SV XI, p. 319; conf. “sobre os Padres” [setembro de 1655].

[19] Obras Completas, SV XII, p. 418, sobre a pobreza, 5 de dezembro de 1659.

[20] Regras Comuns da Congregação da Missão, VI, 2.

Conselho Nacional do Brasil realizará Reunião Plenária da gestão 2022/2026 em abril

SSVP BRASIL

O Conselho Nacional do Brasil (CNB) irá realizar nos dias 1, 2 e 3 de abril, em Osasco/SP, a primeira Reunião Plenária da gestão 2022/2026. Esse ano, os temas principais serão sobre o lema escolhido para o mandato “Ser vicentino: uma vocação vivida na Conferência e junto aos pobres” e sobre o ano temático “Missões: saber cuidar”.

De acordo com o 2° Vice-Presidente do CNB, Jean de Morais Araújo, haverá, ainda, um trabalho junto aos Presidentes dos Conselhos Metropolitanos sobre as expectativas para os próximos quatro anos, com definição das principais linhas de atuação e uma discussão sobre a realidade da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) no Brasil.

Cumprindo obrigações determinadas no Regulamento haverá a prestação de contas do ano de 2021 e no último dia, o Conselho Geral Internacional terá espaço na agenda de atividades para sua apresentação especial, com diversos temas. Os diversos Departamentos e Assessorias do Conselho Nacional do Brasil também terão espeço de fala na Plenária. “É sabido que todas as questões envolvendo a SSVP dependem de reuniões. São elas que vão definir objetos e objetivos, avaliar atitudes e atividades, organizar, criar, refazer… Enfim, dar o melhor rumo possível às ações”, explica o confrade Jean.

Sobre a Plenária

A palavra reunião vem do latim e significa ação de reunir de novo; agrupar, juntar o que está espalhado. Caracteriza a nossa própria vida em sociedade. É uma necessidade e um direito do ser humano. A própria SSVP nasceu de reuniões, a partir dos Grêmios Estudantis de Paris. Portanto, sua fundação está intimamente ligada às Reuniões.

As reuniões devem representar: espírito de fraternidade, simplicidade e alegria.

Há uma grande variedade de tipos de reuniões na SSVP: as ordinárias e extraordinárias (dependendo de situações normais ou não), as de diretorias (somente com aqueles que estão à frente das unidades vicentinas), as festas regulamentares (que não deixam de ser reuniões), as assembleias gerais (que podem ser, também, ordinárias e extraordinárias, dependendo do assunto que vão tratar), entre outras.

Sobre as Plenárias, especificamente, o confrade Jean explica: “Em linhas gerais, o plenário é o órgão máximo de decisões de uma organização. Tecnicamente, portanto, uma reunião plenária é o mesmo que a reunião de sua Assembleia Geral. Na SSVP, as informações, definições e esclarecimentos sobre as Assembleias Gerais estão claramente definidas na Regra. Em todos os níveis, tanto internacional, como no próprio Brasil (e em todos os Conselhos)”.

No Conselho Nacional do Brasil a Assembleia Geral é formada pelos membros de sua própria Diretoria (mas somente aqueles nomeados com direito a voto, nos limites impostos pela Regra) e por todos os Presidentes de Conselhos Metropolitanos. “Os vicentinos nessas posições temporárias representam todos os demais, pelo sistema de governança que foi definido pela SSVP no Brasil, de forma democrática e legal”, conta.

O confrade conta que, embora o Conselho Nacional do Brasil se reúna mensalmente (em Diretoria e de forma ordinária, além de dezenas de outras reuniões, principalmente dos Departamentos e Assessorias que o formam) nem sempre todos estão presentes (ou a grande maioria de seus membros), por diversas circunstâncias. “Também, o tempo de realização dessas reuniões não permitem debates e deliberações de assuntos específicos. Porém, há diversos assuntos da SSVP que necessitam de discussões aprofundadas e decisões tomadas que precisam de aprovação máxima. Por isso a realização de uma Assembleia Geral, que ao longo dos anos foi chamada de “Reunião Plenária”, onde todos são convocados a participar (e, em certos casos, podem ser substituídos em suas funções, a fim de propiciar o direito à palavra e voto)”, específica.

Nos últimos anos, por exemplo, o Conselho Nacional do Brasil, dentro de seu papel de gestor máximo da SSVP em nosso país, emitiu diversos documentos oficiais para nortear as ações administrativas e jurídicas, principalmente Instruções Normativas. Esses documentos, de tão importantes, precisam ser aprovadas pela Assembleia Geral. E, normalmente, são discutidos e aprovados, exatamente durante essas reuniões plenárias anuais. “Elas são, também, um excelente momento de avaliação das ações que têm sido desenvolvidas em todo o país pelas mais diversas unidades vicentinas”, conclui o confrade Jean.