CNB se reúne com representante do Papa em audiência histórica

Encontro com Núncio Dom Giambattista Diquattro reafirmou laços entre SSVP e Igreja

No dia 4 de dezembro, o Conselho Nacional do Brasil realizou um grande momento de significado importante em sua história: um encontro com o núncio apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, representante do Papa Leão, na sede da Nunciatura Apostólica brasileira, em Brasília.

A comitiva vicentina foi formada pelos Confrades Márcio José da Silva (Presidente do CNB), Jean Araújo de Morais (2º Vice-presidente do CNB), das Consócias Elisabete de Castro (1ª Vice-presidente e Presidente eleita do CNB) e Márcia Moreschi (representante da SSVP na Família Vicentina) e tratou de pautas relevantes para a SSVP Brasil.

“Foi um encontro de comunhão, fé e missão, que teve caráter cordial e fraterno, marcado pela humildade, respeito e profundo espírito de comunhão. Mais do que um diálogo institucional, a reunião representou um gesto simbólico de reafirmação dos laços espirituais e pastorais entre a SSVP e Igreja Católica. A presença do Conselho Nacional foi essencial para demonstrar o compromisso da Organização com o serviço à Igreja e à sociedade, reforçando sua vocação de caridade, solidariedade e evangelização”, avalia o Presidente do CNB, Confrade Márcio José da Silva.

As principais pautas abordadas durante a audiência, foram: a reafirmação dos valores éticos e cristãos que orientam a missão da SSVP; a demonstração da importância da SSVP para a Igreja Católica no Brasil; a busca de orientação e apoio da Nunciatura e da Santa Sé para os trabalhos sociais e pastorais da instituição; o fortalecimento dos vínculos com a Igreja e com o Vaticano; o desejo de avançar com a causa de canonização do Beato Frederico Ozanam, fundador da SSVP; e a aspiração por uma futura audiência com o Papa Leão.

O Conselho Nacional do Brasil viu na audiência uma nova etapa de fortalecimento da missão: servir aos mais vulneráveis com rigor ético-cristão e sob a inspiração evangelizadora da Igreja. “Essa visita representou um momento marcante de reconhecimento institucional e espiritual. A reunião com Dom Giambattista Diquattro reforça a legitimidade da missão vicentina no Brasil e a estreita comunhão com a Igreja. Além disso, o diálogo abre portas para apoio institucional e espiritual da Nunciatura, algo que pode contribuir para ampliar a atuação da SSVP em iniciativas de espiritualidade e caridade”, avalia Márcio.

O que são a Nunciatura Apostólica e o Núncio?

A Nunciatura Apostólica é a representação diplomática da Santa Sé junto a um Estado ou a uma organização internacional, chefiada pelo núncio apostólico, que tem por função manter as relações entre a Igreja Católica e as autoridades civis. Em 1829, foi aberta a primeira Nunciatura Apostólica no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Ela foi a primeira representação diplomática moderna na América Latina e seu núncio representava países da América do Sul e Central, inclusive as Antilhas, na condição de Delegado Apostólico. O primeiro Núncio Apostólico do Brasil foi Dom Pedro Ostini, designado pelo Papa Pio VIII.

Atualmente, o Núncio Apostólico do Brasil é o italiano Dom Giambattista Diquattro, de 71 anos. Ele foi nomeado Núncio do Panamá por São João Paulo em 2 de abril de 2005, foi transferido pelo Papa Bento XVI para Nunciatura Apostólica na Bolívia em 21 de novembro de 2008 e chegou ao Brasil e, 29 de agosto de 2020, transferido pelo Papa Francisco.

O Representante Pontifício (Núncio) não é um observador passivo e nem mesmo somente um embaixador empenhado a executar um plano imposto do exterior. É, ao contrário, o protagonista ativo, o artífice operoso de uma representação que diremos total, enquanto a sua missão deve adequar-se e até mesmo identificar-se com aquela do Papa […]. Essa assume os grandes temas conciliares, movendo da renovada visão da eclesiologia, no justo ordenar-se do ofício dos pastores das igrejas particulares com aquele do pastor da Igreja universal (Dom Alfio Rapisarda, Nuncio Apostólico no Brasil, 1992- 2002).

CGI fará prestação de contas de 2024 no Brasil

Evento acontece no dia 5 de dezembro no Rio de Janeiro e reunirá líderes vicentinos de vários países, autoridades civis e religiosas, e membros da diretoria internacional

O Brasil foi escolhido pelo Conselho Geral Internacional da SSVP para sediar seu encontro de prestações de contas do exercício de 2024. O evento acontece no dia 5 de dezembro, no Hotel Windsor Excelsior Copacabana, no Rio de Janeiro/RJ.

Durante o encontro, serão apresentados os relatórios financeiros, estatísticos e institucionais do exercício de 2024, com destaque para as principais ações de combate à fome, promoção humana e assistência social realizadas pela SSVP em diferentes regiões do planeta. Do Brasil, será apresentado o Banho Solidário, que leva dignidade a pessoas em situações de rua, com banho, roupas, alimentação e conversa, em várias cidades do país.

A realização do evento no Brasil, maior país vicentino do mundo, reforça o papel da América Latina como território de fé viva, criatividade social e engajamento comunitário.

Viver a espiritualidade vicentina em tempos de pressa: um convite a desacelerar, escutar e servir com o coração

Em meio à rotina acelerada e às demandas constantes, consócias e psicólogas da Rede de Afeto refletem sobre como o carisma vicentino pode nos ajudar a recuperar o sentido do encontro, da escuta e do serviço verdadeiro

Vivemos em uma sociedade marcada pela pressa. Entre notificações incessantes, agendas cheias e a sensação permanente de urgência, o tempo — e até mesmo o silêncio — parecem se tornar artigos raros. Nesse cenário, surge um desafio fundamental para os vicentinos: como viver a espiritualidade que pede atenção, disponibilidade e amor ao próximo, quando tudo ao redor nos empurra para a velocidade e superficialidade?

Para a consócia Ada Ferreira, psicóloga da Rede de Afeto da SSVP Brasil, a resposta está no próprio exemplo de São Vicente de Paulo. Ela relembra um episódio fundador da espiritualidade vicentina:

“O ato fundacional da Família Vicentina: ouvir um moribundo que estava no seu leito. Ao ouvir pacientemente, Vicente aprendeu a grande lição de como deveria chegar ao coração das pessoas. Ele nos ensina a não entrar na agitação cotidiana e seguir com paciência e disponibilidade afetiva e efetiva. Somos convidados a ser sinal de escuta e encontro.”

Já a psicóloga Dayse Hespanhol da Cunha Felix, também integrante da Rede de Afeto, reforça que espiritualidade vicentina não é um peso adicional na rotina, mas um modo de viver:

“Viver a espiritualidade em tempos de vida corrida é possível — e até necessário — quando a entendemos não como ‘mais uma tarefa’, mas como uma forma de estar no mundo, presente em cada encontro simples, inesperado e contemplativo.”

A pressa como obstáculo à escuta e ao serviço

As especialistas destacam que a tecnologia e a cultura do imediatismo intensificaram a sensação de sobrecarga. Para Ada, a pandemia acelerou ainda mais esse processo: “já estávamos num ritmo acelerado, mas a pandemia da Covid-19 intensificou a prontidão na nossa mente. Perdemos o limite e entendemos que tudo deveria ser atendido na hora. O nosso carisma nos ensina que nada substitui a presença, o encontro, a disponibilidade para ouvir e ser ouvido.”

Dayse completa: “mesmo com a vida corrida, o carisma nos convida à escuta ativa e respeitosa. Cada atendimento é uma conexão íntima e sincera e, ao mesmo tempo, um crescimento contínuo.”

Desacelerar: um movimento espiritual

No contexto vicentino, desacelerar não significa fazer menos, mas estar mais inteiro. Para Ada, esse movimento começa internamente: “precisamos esvaziar de nós mesmos para encontrarmos o outro, para permitir que Deus comunique conosco. Deus comunica conosco através das pessoas e das circunstâncias.”

Dayse destaca que a missão vicentina está ligada ao abandono das urgências do cotidiano: “a saída em missão já é um ‘abandono’ das situações corriqueiras para estarmos plenos nos encontros. Deus nos visita através da mística vicentina.”

Escutar com o coração

Inspiradas no texto “Escutatória”, de Rubem Alves, as psicólogas reforçam a importância de cultivar silêncio interior para que a escuta seja verdadeira. “A escuta atenta exige postura de abertura e encontros sinceros. Deus nos faz nos silêncios da vida”, afirma Dayse. “Ouvir nem sempre é confortável, mas ao ouvir com disponibilidade interna afetiva e efetiva, acolhemos o outro como ele é”, complementa Ada.

Rede de Afeto: um antídoto coletivo

A Rede de Afeto nasceu justamente da necessidade de espaço de escuta entre vicentinos, especialmente jovens. Segundo Dayse: “quando nos conectamos com outros de forma autêntica e acolhedora, criamos um espaço onde todos podem respirar, se sentir vistos e apoiados.”

Ada descreve a iniciativa como: “uma rede de esperança e confiança do coração. Que essa confiança silenciosa renasça em cada um de nós.”

Dicas práticas para servir com atenção

Para quem deseja viver o carisma vicentino com profundidade, mesmo na correria, as psicólogas deixam orientações:

Ada destaca a importância da confiança e esperança: “a confiança do coração é uma entrega carregada de fé. Para São Vicente, essa entrega era o abandono total na providência de Deus. A certeza de que nunca estivemos totalmente sozinhos.”

Já Dayse reforça um gesto simples e transformador: “pratique a escuta ativa. Pare um instante, olhe nos olhos de quem está à sua frente e simplesmente ouça. Às vezes, isso pode fazer toda a diferença.”

E lembra: “não se esqueça de se cuidar também. O serviço vicentino é sobre servir com a alma leve — e isso começa com você.”

Em tempos de pressa, o carisma vicentino nos provoca a nadar contra a corrente: desacelerar, encontrar sentido, cultivar presença e transformar encontros em experiências de amor e esperança. Porque, como nos ensinou São Vicente, é no outro — especialmente no mais pobre — que Deus nos espera.

A Encarnação que nos Chama à Carne dos Pobres: Reflexão do Padre Tito Marega

Uma meditação vicentina sobre o Advento, o Natal e a presença viva de Cristo na vida dos Pobres

À luz do Tempo do Advento e do Ano Jubilar da Encarnação, o Padre Tito Marega, dos Religiosos de São Vicente de Paulo, apresenta uma reflexão profunda sobre a presença de Cristo na “carne dos Pobres”, tema central da espiritualidade vicentina e da vivência concreta do Evangelho. Inspirado na liturgia, na tradição da Igreja e nas palavras do Papa Francisco, o padre convida cada cristão a redescobrir, neste Natal, o mistério do Deus que se faz carne e habita entre nós, especialmente nos mais vulneráveis. A seguir, confira a reflexão completa.

O Filho de Deus se fez carne como nós

Entramos no Advento, na etapa final do Ano Jubilar da Encarnação do Filho de Deus, como Peregrinos de Esperança. A oração coleta da missa do 1º Domingo do Advento nos coloca, de maneira bem clara, qual é o espírito que deve nos guiar nesse tempo litúrgico: “Ó Deus, concedei aos vossos fiéis o ardente desejo de acorrer com boas obras, ao encontro do Cristo que vem, para que, colocados à sua direita, mereçam possuir o Reino celeste.”

“Pela sua Encarnação, Filho de Deus uniu-se a cada pessoa humana”, diz o documento do Concílio Vaticano sobre a missão da Igreja no mundo de hoje. Diz o Papa Leão XIV, na sua recente Exortação Apostólica Dilexi te: “Para nós, cristãos, o quesito dos Pobres remete-nos à essência da nossa fé. A realidade é que, para os cristãos, os Pobres não são uma categoria sociológica, mas a própria carne de Cristo.”

Com efeito, não basta limitar-se à enunciação genérica da doutrina da Encarnação de Deus. Para entrar verdadeiramente neste mistério, é preciso especificar que o Senhor se faz carne, que tem fome e sede, que está doente, na prisão.

“A Igreja pobre para os Pobres começa pelo dirigir-se à carne de Cristo. Se nos firmamos na carne de Cristo, começamos a compreender o que é essa pobreza, a pobreza do Senhor. E isso não é fácil!” (Papa Francisco)

“O amor aos Pobres é um elemento essencial da história de Deus conosco” e irrompe do próprio coração da Igreja como um apelo contínuo ao coração dos cristãos. Enquanto corpo de Cristo, a Igreja sente como sua própria “carne” a verdade dos Pobres (Dilexi te).

Esses textos tão fortes nos fazem clara alusão ao nascimento de Jesus: Deus Conosco, fazendo-se carne da nossa carne. O mesmo Jesus que, no julgamento final, vai nos dizer: “Eu tive fome, eu tive sede… o que você fez ao menor dos meus irmãos foi a mim que você o fez.” (Mateus 25, 31-46)

Estamos no coração do nosso carisma vicentino. Semanalmente, na visita à casa dos Pobres, estamos alimentando o ardente desejo de ir ao encontro de Cristo neste Natal, celebrado na liturgia festiva e reconhecido, acolhido, “visitado na ‘carne’ dos Pobres”, que assistimos com amor e carinho.

A oração como centro da missão vicentina: por que rezar antes das visitas transforma o serviço aos assistidos

Em reflexão, o Padre Onésio Gonçalves Moreira, CM, destaca que a missão vicentina só floresce quando nasce da oração, que orienta, sustenta e dá sentido à caridade

Rezar antes das visitas aos assistidos não é um ritual formal, um “momento inicial” ou uma etapa protocolar. Para a SSVP, trata-se do próprio coração da missão, o eixo que orienta o olhar, o passo, a escuta e a atitude do confrade e da consócia. É a partir dessa perspectiva que o Padre Onésio Gonçalves Moreira, da Congregação da Missão (CM) e assessor espiritual do Conselho Metropolitano (CM) de Belo Horizonte, reflete sobre a importância da vida espiritual como fundamento de todo serviço vicentino.

Segundo ele, “a missão, eixo do carisma, só pode ser bem vivida se os vicentinos prezam por uma vida de oração consistente”. A visita, portanto, não começa na porta do assistido, mas muito antes, na conversa íntima com Deus, onde o vicentino se dispõe a seguir Cristo na pessoa dos Pobres e a deixar que o Espírito Santo conduza seus gestos.

Oração: ponto de partida e força da missão

Para o padre, sem oração não há caridade autêntica. Ozanam e os primeiros membros da SSVP compreendiam profundamente o sentido da célebre afirmação de São Vicente: “Dá-me um homem de oração e ele estará apto para tudo.” A oração não é apenas alimento; é o terreno fértil onde o carisma cresce, amadurece e se transforma em ação concreta.

Ela é, também, o que impede que o serviço vicentino se reduza a uma assistência material ou burocrática — entrega de cestas básicas, pagamentos de contas, encaminhamentos práticos. A oração garante que o foco permaneça na pessoa, no encontro, na dignidade do assistido e na presença de Cristo em cada visita.

Uma tríade que sustenta o carisma vicentino

Na reflexão, o Padre Onésio apresenta um caminho espiritual que resume a essência da missão:

  1. Tudo começa em Jesus Cristo, enviado do Pai na força do Espírito Santo.
  2. A oração cria a disposição interior para ouvir os apelos de Deus e dos vulneráveis.
  3. A caridade se concretiza no encontro com os Pobres, seja numa reunião, num projeto social ou em uma simples visita fraterna.

Esse movimento, explica ele, é gradual e progressivo: parte de Cristo, encontra sua solidez na oração e culmina no encontro com aqueles que mais precisam. “Esta tríade reflete um ciclo perfeito porque, no Pobre, está a pessoa do próprio Cristo — e sem a vida de oração, nada disso faria sentido”, afirma.

O centro da reunião e da missão

A partir dessa compreensão, Padre Onésio reforça que a espiritualidade não pode ser apenas um instante de abertura nas reuniões. Ela deve ser o próprio centro, aquilo que define prioridades, orienta decisões e une os confrades e consócias na mesma intenção.

A oração comunitária, nesse sentido, fortalece a unidade, abre espaço para o discernimento e cria um ambiente favorável à ação do Espírito Santo. O vicentino que reza com a Conferência aprende a olhar o Pobre com mais sensibilidade, a agir com mais prudência e a servir com mais amor.

O assistido como sacramento da presença de Cristo

Ao recordar a missão de Jesus — “evangelizar os Pobres” (cf. Lc 4,18) —, o padre ressalta que este foi o motivo pelo qual Cristo veio ao mundo e, também, “o que nos fará ir da terra ao céu”.

A visita vicentina, portanto, não é apenas uma ação de solidariedade: é um ato de encontro com o próprio Cristo. Por isso, é também um ato de adoração, um momento profundamente espiritual, que transforma não apenas a vida do assistido, mas a de quem serve.

Um convite à introspecção e à fidelidade ao carisma

Ao final, o padre faz um apelo aos vicentinos brasileiros: que reconheçam que a SSVP é uma obra divina e que, por isso mesmo, não pode ser vivida sem oração. “A oração será o meio de descobrir o que o Espírito quer falar a cada um que encontra no carisma vicentino a razão de sua escolha pelo Evangelho de Jesus.”

A mensagem é clara: quem reza, serve melhor. O vicentino que ora não só desenvolve um trabalho mais humano e coerente, mas também cresce espiritualmente, permitindo que a caridade o transforme por dentro.